São Paulo, domingo, 21 de março de 2010

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Compositor faz parte do inconsciente coletivo brasileiro

RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

É preciso cautela para ouvir o samba triste e elegante de Cartola. Você pode achar que está preparado para a beleza de "O Mundo É um Moinho", "Peito Vazio" ou "Acontece". Mas qualquer desatenção, nem percebe e pronto: emoção querendo vazar do peito.
Com delicadeza forte, Cartola vai no mais profundo de cada um. Seus sambas lentos e lânguidos, de melodias invulgares e letras diretas, transbordam amor e humildade. Os versos originais e profundamente líricos têm, ao mesmo tempo, melancolia zen e alegria de viver.
Cartola existe no inconsciente coletivo. O pedreiro, guardador, contínuo do morro carioca, boêmio por vocação, talentoso por natureza. De pouca educação formal, mas com a sabedoria das esquinas da vida. Sambista que não estudou, mas admira os melhores poetas.
Fins dos anos 20, Mário Reis foi ao morro buscar seus sambas. Anos 60, Nara Leão o lançava como novidade. Aos 65 anos, primeiro disco. Décadas depois, não faltam intérpretes e ouvintes para suas canções.
Geração após geração, sua obra continua nosso ideal mais realizado. Os poucos discos, gravados nos últimos anos de vida, são especial pedra de toque para tudo que veio depois.
Quando entraram em estúdio, em 1974, Dino, Meira, Canhoto, Copinha, Marçal, Luna e Raul de Barros, para gravar um primeiro LP de Cartola cantando sua música, não podiam imaginar que, àquela altura, estariam criando os padrões máximos de excelência no samba.
Certa vez, disse que não saía mais na Mangueira. "Minha escola agora sou eu, meu violão e minha patroa". Na verdade, sempre foi. Cartola reside na sua própria categoria, não vale dizer que está entre os maiores. É o parâmetro de maior.


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