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DEBATE
Escritor americano participa de debate sobre discriminação
Anthony Marx critica a falta
de debate racial no Brasil
da Reportagem Local
Ao contrário do que ocorreu nos
Estados Unidos e na África do Sul,
o Brasil forjou para uso interno o
mito da "democracia racial".
Não segregou o negro com legislação específica. Mas, ao acreditar
que resolvia um problema, criou
uma série de outros.
Um deles: o negro brasileiro,
sem uma forte identidade, demonstra um baixo índice de mobilização.
Outro: o negro não conseguiu
colocar na agenda política o tema
da discriminação que continua a
vitimá-lo. Ainda: o negro na base
da pirâmide econômica e social
acaba se convencendo que é o único culpado pela situação em que se
encontra.
Foram estes alguns dos pontos
levantados pelo escritor norte-americano Anthony W. Marx, autor do livro "Making Nations and
Race" ("Construindo Raça e Nações"), em debate promovido pela
Folha no último dia 11.
O evento foi co-produzido pela
Cambridge University Press e pela
Editora Martins Fontes, que está
lançando o livro em tradução. O
debate contou também com a participação de Robert Slenes, professor da Unicamp, e de Suely Carneiro, do Instituto da Mulher Negra.
Anthony W. Marx resumiu, durante o debate, a comparação histórica dos três modelos de segregação.
Nos Estados Unidos, disse, os
brancos do Norte e do Sul se reconciliaram após a Guerra Civil
com base numa idéia de nação que
excluía e discriminava, por meio
de leis, a população negra.
Reconciliação parecida ocorreu
na África do Sul, entre os colonos
de origem holandesa e os de origem britânica, após a Guerra dos
Boers, no início do século. O apartheid foi o instrumento da segregação racial.
Daltonismo
No Brasil, ao contrário, nada parecido ocorreu, diz o escritor. Inexistiu algo como o movimento
norte-americano pelos direitos civis, que deu à população negra
uma bandeira e ao mesmo tempo
reforçou sua identidade.
"Não estou advogando o recrudescimento de conflitos nem trazendo receitas, que devem ser produzidas pelos próprios brasileiros.
Mas estou certo de que, ao evitarem o problema, os brasileiros impedem que as coisas avancem",
disse.
O escritor descartou os fundamentos de outros mitos que, ao lado da "democracia racial", impõem ao Brasil um certo "daltonismo" (não se enxerga a diferença de cor).
São exemplos disso a idéia de
que a escravidão no Brasil assumiu uma forma mais humanitária,
mesmo com uma taxa de mortalidade que é o dobro da registrada
entre os escravos norte-americanos, ou a de que o catolicismo
produziu uma sociedade menos
excludente, quando, em verdade,
a igreja possuía escravos e não tinha forças para acabar com a escravidão.
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