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"ABAIXO DA CONVERGÊNCIA: EXPEDIÇÕES À ANTÁRTICA, 1699-1839"
Autor revisita corrida à Antártica
RODRIGO UCHÔA
COORDENADOR DE ARTIGOS E EVENTOS
A baixo da convergência, as
ondas são enormes, o frio é
tremendo, as correntes são desconhecidas. Mas a convergência, essa linha imaginária que formaria
um anel gelado no inexplorado
extremo sul do planeta, foi ultrapassada pelos homens dos séculos 18 e 19 que procuravam vencer
a última fronteira terrestre e chegar à "Terra Australis Incognita".
A grande aventura é descrita pelo escocês Alan Gurney em "Abaixo da Convergência: Expedições à
Antártica, 1699-1839". Designer
de barcos e fotógrafo, ele mesmo
já participou de expedições à Antártica e ao Ártico. Experiente,
Gurney dá uma graça especial ao
livro por misturar o grande conhecimento técnico de navegação
-sem que fique entediante para
os não-iniciados- com histórias
e reações humanas conhecidas
-inveja, medo, ambição etc.
Os grandes exploradores e cientistas da época são protagonistas:
o astrônomo Edmund Halley, o
do cometa de mesmo nome, é um
deles, sucedido pelo hoje lendário
James Cook e assim por diante.
Cook, aliás, teve a sua primeira
grande oportunidade de exploração quando a Real Sociedade Britânica o incumbiu, em 1769, de
uma missão de observação do
trânsito de Vênus pelo disco solar.
Halley propusera meio século
antes que o evento fosse observado em duas partes distantes do
globo. Os cientistas estavam excitadíssimos. A passagem poderia
representar o primeiro passo para
a mensuração do sistema solar e
da distância entre o Sol e a Terra.
Aí entra o lado humano tão bem
explorado por Gurney. Cook não
era a escolha lógica. Alexander
Dalrymple, primeiro hidrógrafo
do Almirantado, membro da Real
Sociedade, explorador experiente
e um dos nomes mais importantes e respeitados de Londres, estava no páreo -e era favorito.
Mas Dalrymple era pedante e
orgulhoso, queria achar a "Terra
Incognita" e não fazer apenas observações astronômicas. Ele tinha
certeza da existência de um continente antártico habitável. E mais:
certeza de que lá viveriam ao menos 50 milhões de pessoas.
"Onde estiver durante a expedição, poderei ver a passagem de
Vênus", chegou a desdenhar
aquele que se considerava o novo
Colombo. A escolha de Cook para
comandar a expedição do Endeavour fez com que Dalrymple o
atacasse pelo resto da vida.
As referências ao Brasil dão um
toque de divertimento a mais.
Uma expedição russa que partiu
de Kronstadt em 1819 com duas
grandes embarcações, o Vostok
(Oriente) e o Mirnyi (Pacífico),
passou três semanas no Rio de Janeiro. O capitão Bellingshausen
descreve a cidade como tendo um
"desagradável aspecto de sujeira".
A pobreza e a multidão de escravos desagradaram em muito
ao russo. Para ele, os topos dos
morros do Rio estavam cobertos
de mosteiros nos quais apenas os
religiosos "tinham o benefício de
ar fresco e saudável e o prazer de
belos panoramas vistos do alto".
Abaixo da Convergência:
Expedições à Antártica, 1699-1839
Below the Convergence: Voyages
Toward Antarctica, 1699-1839
Autor: Alan Gurney
Tradução: S. Duarte
Editora: Cia. das Letras
Quanto:R$ 39 (553 págs.)
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