São Paulo, sábado, 21 de abril de 2001

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"ABAIXO DA CONVERGÊNCIA: EXPEDIÇÕES À ANTÁRTICA, 1699-1839"

Autor revisita corrida à Antártica

RODRIGO UCHÔA
COORDENADOR DE ARTIGOS E EVENTOS

A baixo da convergência, as ondas são enormes, o frio é tremendo, as correntes são desconhecidas. Mas a convergência, essa linha imaginária que formaria um anel gelado no inexplorado extremo sul do planeta, foi ultrapassada pelos homens dos séculos 18 e 19 que procuravam vencer a última fronteira terrestre e chegar à "Terra Australis Incognita".
A grande aventura é descrita pelo escocês Alan Gurney em "Abaixo da Convergência: Expedições à Antártica, 1699-1839". Designer de barcos e fotógrafo, ele mesmo já participou de expedições à Antártica e ao Ártico. Experiente, Gurney dá uma graça especial ao livro por misturar o grande conhecimento técnico de navegação -sem que fique entediante para os não-iniciados- com histórias e reações humanas conhecidas -inveja, medo, ambição etc.
Os grandes exploradores e cientistas da época são protagonistas: o astrônomo Edmund Halley, o do cometa de mesmo nome, é um deles, sucedido pelo hoje lendário James Cook e assim por diante. Cook, aliás, teve a sua primeira grande oportunidade de exploração quando a Real Sociedade Britânica o incumbiu, em 1769, de uma missão de observação do trânsito de Vênus pelo disco solar.
Halley propusera meio século antes que o evento fosse observado em duas partes distantes do globo. Os cientistas estavam excitadíssimos. A passagem poderia representar o primeiro passo para a mensuração do sistema solar e da distância entre o Sol e a Terra.
Aí entra o lado humano tão bem explorado por Gurney. Cook não era a escolha lógica. Alexander Dalrymple, primeiro hidrógrafo do Almirantado, membro da Real Sociedade, explorador experiente e um dos nomes mais importantes e respeitados de Londres, estava no páreo -e era favorito.
Mas Dalrymple era pedante e orgulhoso, queria achar a "Terra Incognita" e não fazer apenas observações astronômicas. Ele tinha certeza da existência de um continente antártico habitável. E mais: certeza de que lá viveriam ao menos 50 milhões de pessoas.
"Onde estiver durante a expedição, poderei ver a passagem de Vênus", chegou a desdenhar aquele que se considerava o novo Colombo. A escolha de Cook para comandar a expedição do Endeavour fez com que Dalrymple o atacasse pelo resto da vida.
As referências ao Brasil dão um toque de divertimento a mais. Uma expedição russa que partiu de Kronstadt em 1819 com duas grandes embarcações, o Vostok (Oriente) e o Mirnyi (Pacífico), passou três semanas no Rio de Janeiro. O capitão Bellingshausen descreve a cidade como tendo um "desagradável aspecto de sujeira".
A pobreza e a multidão de escravos desagradaram em muito ao russo. Para ele, os topos dos morros do Rio estavam cobertos de mosteiros nos quais apenas os religiosos "tinham o benefício de ar fresco e saudável e o prazer de belos panoramas vistos do alto".



Abaixo da Convergência: Expedições à Antártica, 1699-1839
Below the Convergence: Voyages Toward Antarctica, 1699-1839
    
Autor: Alan Gurney
Tradução: S. Duarte
Editora: Cia. das Letras
Quanto:R$ 39 (553 págs.)




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