São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 2008

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Crítica/"As Tais Frenéticas - Eu Tenho uma Louca Dentro de Mim"

Sandra Pêra abre bastidores das Frenéticas em livro

Vânia Toledo/Divulgação
As Frenéticas no período da fama, nos anos 70; Sandra Pêra é a terceira em pé a partir da esq.


JOSÉ FLÁVIO JÚNIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Muito já se escreveu sobre o rock brasileiro dos anos 80 e os artistas que participaram de sua consolidação. Sobre quem pavimentou o caminho, ainda há bastante a ser escrito. Para existirem Blitz e Os Paralamas do Sucesso, precisaram existir Rita Lee e As Frenéticas.
Sandra Pêra dá sua contribuição para esclarecer como as coisas funcionavam no pop nacional da segunda metade da década de 70 no livro "As Tais Frenéticas -Eu Tenho uma Louca Dentro de Mim". São memórias da frenética que mais conservou causos na cachola. "Sempre fui conhecida pela minha boa memória", diz a irmã da atriz Marília Pêra.
Ela se preocupa menos em analisar o cenário e mais em detalhar passagens pitorescas do grupo formado para animar a The Frenetic Dancin" Days Discothèque, boate que reinou por breve período na noite carioca. O jornalista Nelson Motta foi contratado para iniciar um trabalho diferente na casa e reuniu seis garotas (Sandra, Leiloca, Lidoka, Dudu, Edir e Regina) para serem garçonetes e fazerem performances.
As Frenéticas só viraram um grupo após o fim da boate. O mundo vivia a febre disco music e o Brasil carecia de artistas nessa praia. Sandra ressalta o papel do produtor Liminha, fundamental para formatar o som do conjunto.
Fartamente ilustrado, o livro traz boas histórias de começo de carreira, que são sempre as mais saborosas em qualquer biografia de banda. Os primeiros shows, o primeiro contrato com gravadora, o primeiro grande hit ("Perigosa") etc.
A autora revela intimidades, como o romance que teve com Gonzaguinha, que era casado, e cujo fruto foi a filha Amora Pêra, hoje integrante de As Chicas. Conta ainda dos dois abortos feitos no auge da fama.
Não dava para escapar das drogas. Sandra afirma nunca ter comprado cocaína, mas só porque não houve necessidade: sempre havia alguém com um pouco para compartilhar.
Na época das Frenéticas, sexualidade ainda era tema delicado. Num dos capítulos, a autora relata uma entrevista em que as integrantes foram questionadas sobre relações homossexuais. Diferentemente das cinco parceiras, Sandra confirmou ter experimentado o mesmo sexo. "Aquilo saiu naturalmente, mas incomodou muito as outras meninas", lembra.
Ela recebeu um telefonema de Nelson Motta pedindo que ligasse para o entrevistador e solicitasse que a informação não fosse publicada.
Sandra pediu e a informação não saiu. Mas a mensagem libertária das Frenéticas já estava dada nas músicas, nas letras, nas roupas e no deboche em plena ditadura militar.


AS TAIS FRENÉTICAS - EU TENHO UMA LOUCA DENTRO DE MIM
Autora:
Sandra Pêra
Editora: Ediouro
Quanto: R$ 49,90 (224 págs.)
Avaliação: bom


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