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Balé francês traz "Giselle" a São Paulo
especial para a Folha
A versão integral de "Giselle",
que o Ballet National de Nancy et
de Lorraine apresenta quarta e
quinta-feiras em São Paulo, promete reviver a tradição da escola
clássica francesa.
É o que garante Pierre Lacotte,
65, coreógrafo e atual diretor artístico da companhia, reconhecido
internacionalmente como um dos
maiores especialistas na remontagem de obras clássicas.
Respeitado inclusive na Rússia,
onde já foi convidado para remontar balés históricos, Lacotte iniciou
sua carreira como bailarino do Ballet da Ópera de Paris.
Depois de fundar, em 1946, o Ballet da Torre Eiffel, mudou-se temporariamente para Nova York, onde atuou como primeiro bailarino
do Metropolitan Opera House, de
1956 a 1957.
Eterno romântico, Lacotte diz
que resolveu preservar o patrimônio clássico porque temia que tais
obras desaparecessem.
"Tomei a responsabilidade de
defender o repertório clássico e romântico porque adoro os balés daquele período e também por achar
importante cultivar obras que fazem o ser humano sonhar."
Lacotte começou a desenvolver
sua profunda cultura sobre os clássicos já na juventude. "Além de ter
dançado todo o repertório clássico
na Ópera de Paris, trabalhei com
grandes professores, como Gustav
Ricaux (1884-1961), que formou
nomes como Roland Petit e Jean
Babilée."
Para reunir suas inúmeras anotações sobre estilo, detalhes como
a lentidão ou rapidez dos passos,
ou ainda a harmonia específica das
obras antigas, Lacotte também se
valeu do convívio com Lioubov
Egorova (1880-1972), bailarina e
professora russa que havia trabalhado com Marius Petipa, coreógrafo de obras como "O Lago dos
Cisnes".
"É preciso captar inclusive os
mistérios dos clássicos quando se
quer remontá-los", observa Lacotte, cuja remontagem de "Gisele" é muito próxima do original.
"Há muitos documentos sobre
`Giselle', um balé que nunca deixou de ser encenado desde sua estréia em 1841, no Teatro da Academia Real de Música de Paris."
Hoje, à frente do jovem elenco
do Ballet de Nancy, Lacotte exige
total empenho dos bailarinos dispostos a interpretar heróis do século passado.
"Um bailarino atual que deseja
dançar um papel romântico tem
de abstrair o que somos hoje para
poder transmitir o que fomos no
passado. É preciso retraduzir dentro de si toda uma maneira de ser,
no sentido de captar um estilo de
época. Andar de maneira moderna
e realizar gestos duros são minúcias que fazem perder todo o clima
de uma obra antiga."
A sintonia de Lacotte com a tradição não significa ignorar as releituras contemporâneas dos clássicos. Desde que tais versões beirem
a genialidade.
"Há muitas releituras estúpidas.
Para transformar um clássico numa obra menor, é melhor fazer outra coisa. Até agora, só o coreógrafo sueco Mats Ek conseguiu realizar releituras extraordinárias de
`Giselle' e `O Lago dos Cisnes'."
Contudo, desde que assumiu a
direção do Ballet de Nancy em
1991, Lacotte não se resume ao repertório clássico. Para desenvolver
a versatilidade do elenco, ele também promove a interpretação de
autores contemporâneos.
Na temporada brasileira, ele pretende mostrar o ecletismo do Ballet de Nancy no programa de sexta-feira, que reúne as coreografias
"Tema e Variações" e "Tchaikovsky Pas-de-Deux", de Balanchine (1904-1983); "Adagietto",
do argentino Oscar Araiz (autor de
"Maria Maria", obra que lançou
o Grupo Corpo), além de "Sinfonia em Ré", do tcheco Jiri Kylian.
O mesmo programa ainda reúne
obras de jovens autores, como
"Stetl", do inglês Richard Wherlock, e "L`Ephémère", do francês
Norbert Schmuki, que utilizou
música do compositor brasileiro
Manuel Varella.
A presença brasileira na temporada do Ballet de Nancy ainda inclui a bailarina Ana Gonzaga, que
interpretará a rainha das Willis no
segundo ato de "Giselle".
Como estrela, o Ballet de Nancy
traz o bailarino russo Andrei Fedotov, que dançou no Ballet Bolshoi de Moscou e trabalhou com
Rudolf Nureyev no Teatro ala Scala de Milão.
Depois de dançar em São Paulo,
o Ballet de Nancy se apresentará
em Porto Alegre (dias 26 e 27, no
Teatro do Sesi) e Teatro Municipal
do Rio, dias 29 e 1º de maio.
(AFP)
Espetáculo: Ballet National de Nancy et de
Lorraine
Quando: quarta e quinta-feiras, 21h
("Giselle"); sexta, 21h (programa
contemporâneo)
Onde: Teatro Municipal de São Paulo (Pça.
Ramos de Azevedo, s/n; tel. 011/222-8698)
Quanto: R$ 10,00, R$ 20,00, R$ 40,00, R$
60,00 e R$ 80,00
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