São Paulo, segunda-feira, 21 de maio de 2001

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Moretti, Lynch e Coen voltam a ganhar principais prêmios no Festival de Cannes

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France Presse
Nanni Moretti, vencedor da Palma de Ouro em Cannes


SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

O comentário na Croisette, a famosa avenida beira-mar de Cannes, era que os melhores filmes do festival de cinema francês eram velhos e não concorriam.
Uma referência à cópia com 53 minutos a mais de "Apocalypse Now" e a "Il Mio Viaggio in Italia", homenagem de 4h04 de Martin Scorsese ao cinema italiano dos anos 40 a 60, ambos exibidos em sessão especial.
Mas um vencedor tinha de sair. E saiu. Ontem à noite, Nanni Moretti ganhou a Palma de Ouro por seu "La Stanza del Figlio" (O Quarto do Filho), o favorito. O italiano da cidade de Brunico, 47 anos, é o principal diretor do país hoje em dia. Levou o prêmio máximo do festival por seu drama simples e comovente sobre uma família que perde um filho num acidente no mar.
É a quarta vez que ele concorre à Palma de Ouro e a primeira em que leva. O autor de "Aprile" e "Ecce Bombo" havia sido premiado como melhor diretor de 1994, pelo autobiográfico "Caro Diário". Curiosamente, "La Stanza" é o filme menos pessoal e narcisista de um diretor conhecido por sua vaidade. "Tocar o público é fácil, mas sensibilizar o júri oficial de Cannes é uma outra história", disse ele ontem.
Outro grande premiado da noite foi o austríaco Michael Haneke. Seu drama existencial com elementos sadomasoquistas "La Pianiste" (A Pianista) levou o Grande Prêmio do Júri, melhor atriz (merecido, para a francesa Isabelle Huppert, a pianista do título) e ator para o jovem Benoit Magimel, 27 (uma surpresa).
Isabelle protagoniza duas das cenas mais polêmicas de Cannes, uma em que corta o próprio sexo com uma lâmina de barbear no seu banheiro e outra quando vai a uma cabine de filmes pornôs e cheira lenços usados pelos frequentadores anteriores. O diretor é o mesmo do ultraviolento "Funny Games", de 1997.
Como previsto, os EUA não saíram de mãos abanando. Dividiram a categoria melhor diretor os americanos Joel Coen, pela homenagem noir "The Man Who Wasn't There" (O Homem que Não Estava Lá), e David Lynch, pelo thriller sobrenatural "Mulholland Drive". Ambos são veteranos da Palma de Ouro ("Barton Fink", 1991, e "Coração Selvagem", 1990, respectivamente). Coen fez jus ao título de seu filme e não apareceu na cerimônia.
Já o prêmio de melhor roteiro foi para "No Man's Land" (Terra de Ninguém), do bósnio Danis Tanovic, 32, a primeira vez que o país concorre em Cannes.
Espécie de "M.A.S.H." revisitado, por sua visão bem-humorada da guerra, conta o conflito entre um bósnio e um sérvio numa trincheira de 1993.
Se o Brasil não tinha nenhum longa em Cannes, pelo menos participou indiretamente de "No Man's". Foi sentado na mesa de um bar de São Paulo, durante a Mostra de Cinema de 1999, que o diretor Tanovic decidiu rodar o filme com seus dois produtores. Os três estavam no país como jurados do evento paulistano.
Um único filme brasileiro concorria numa mostra oficial, a paralela Quinzena dos Realizadores. Era o curta "Mulheres Choradeiras", dirigido pela paraense Jorane Castro. A comédia não levou nada.
As escolhas de ontem foram do júri presidido por Liv Ullmann e integrado pelas atrizes Charlotte Gainsbourg, Sandrine Kiberlain (francesas) e Julia Ormond (inglesa), os diretores Terry Gilliam (americano), Mimmo Calopresti (italiano), Mathieu Kassovitz (francês), Edward Yang (taiwanês), Moufida Tlatli (tunisiana) e o escritor francês Philippe Labro.
Já o Prêmio Câmera de Ouro, dado todo ano a um cineasta estreante e neste ano presidido pela atriz portuguesa Maria de Medeiros, saiu para o canadense Zacharias Kunuk , por "Atanarjuat, the Fast Runner" (Atanarjuat, o Corredor Veloz), que participava da mostra Um Certo Olhar, a mais importante entre as paralelas.
Ficaram de fora dos premiados da noite grandes nomes do cinema como o prata-da-casa Jean-Luc Godard, eterno desprezado por Cannes, com suas seis indicações e nenhuma vitória, e o português Manoel de Oliveira, 92. E mesmo outro detentor de Palma de Ouro no passado, o italiano Ermano Olmi (1978).



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