São Paulo, segunda-feira, 21 de maio de 2001

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Ganha reedição livro "Lasar Segall", de 1951, preparado por Pietro Maria Bardi


Segall reencontra Bardi

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 1934, na Galleria Del Milione, em Milão (Itália), o jovem jornalista Pietro Maria Bardi encontrou-se com o já consagrado artista plástico Lasar Segall. Foi a primeira vez. Como resultado, um artigo elogioso na revista "Quadrante", para onde Bardi trabalhava. Desde então, foram muitos encontros.
Agora, a partir desta semana, ambos voltam a estar juntos, graças à reedição de "Lasar Segall", o livro que Bardi preparou para o artista em 51, por ocasião de uma retrospectiva sua no Museu de Arte de São Paulo (Masp), que tinha o italiano como diretor.
"Foi uma publicação muito singular na época, quando eram raros os livros de arte no país", conta Marcelo Araujo, do Museu Lasar Segall.
A nova obra é praticamente uma edição fac-similar da primeira publicação, acrescida apenas de um apêndice que traz parte da correspondência entre ambos, biografias e uma entrevista de Vera D'Horta com Bardi, em junho de 72. O livro original está esgotado há décadas, apenas a versão bilíngue francês-inglês ainda está disponível.
"Este é um dos trabalhos mais consistentes do Bardi, foi ele próprio quem diagramou o livro e chegou a receber prêmios por isso na época", conta Marcelo Ferraz, do Instituto Lina Bo e P.M. Bardi, que edita o livro, em co-produção com a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo.
Esta é a quarta publicação do instituto para as comemorações do centenário do nascimento de Bardi, iniciado em 99, logo após sua morte. Todas acompanharam exposições. Neste caso, "Bardi e Segall" esteve em cartaz no ano passado.

Amigos
Bardi chegou ao Brasil em 1946, a convite de Assis Chateaubriand, para criar um museu de arte -no ano seguinte já participava da fundação do Masp, onde permaneceu como diretor até 1990.
Logo ao desembarcar do navio que o trouxe da Itália, no Rio de Janeiro, Bardi encontrou-se com Segall, que vivia no país definitivamente desde 1932. Na época, o artista já era reconhecido internacionalmente por sua obra expressionista e sua melhor safra segundo o próprio Bardi na publicação: "Quando chega ao Brasil, o que encontra é um ambiente de grande conformismo. Até a Semana de Arte de 22 foi uma grande vaia. Para mim, Segall era um peixe fora d'água. Era, antes de tudo, um russo, e um patriota russo. Não há dúvida que seu período mais importante é o expressionista".
Foi Segall uma das pessoas a introduzir Bardi no mundo das artes do país. Promoveu jantares em sua casa no Rio, apresentou-o a intelectuais e artistas. Os dois casais, Lina Bo e Bardi, Jenny Klabin e Segall tornam-se amigos. Por serem estrangeiros -Segall nasceu na Lituânia-, certa cumplicidade desenvolveu-se entre os dois.
Por seu lado, Bardi realizou um imenso trabalho de difusão de Segall no Brasil e na Europa. Organizou mostras e publicações, doou obras do artista a instituições no exterior, fez contatos com críticos e marchands.
Em 1951, quando Segall completou 60 anos, Bardi organizou uma grande retrospectiva do artista no Masp, e o livro, agora reeditado, deveria ser lançado para a abertura da mostra. Atrasos na impressão adiaram o lançamento para o ano seguinte.
Publicação luxuosa para a época, ela reunia 194 imagens de obras, do período de 1910 a 1950. Além de uma extensa biografia escrita pelo próprio Bardi, certamente em colaboração com Segall, o livro reunia ainda textos de Mário de Andrade e Manuel Bandeira, entre outros.
Mais do que mero registro de uma exposição, "Lasar Segall" é o registro de uma amizade, escrito "com espírito de humana simpatia", conforme o texto introdutório de Bardi no livro.

LASAR SEGALL - De: Pietro Maria Bardi. Editora: Instituto Lina Bo Bardi (tel. 0/xx/ 11/3744-9902) e Imprensa Oficial do Estado de São Paulo (tel. 0/xx/11/6099-9446). Lançamento: no próximo sábado, dia 26/5, às 14h, no Museu Lasar Segall (r. Berta, 111, tel. 0/xx/11/5574-7322). Reedição, a partir da obra original de 1952, com novos textos, 216 págs. R$ 50.



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