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LIVROS
COLETÂNEA
Chega às livrarias reunião de artigos do jornalista Reinaldo Azevedo
"Contra o Consenso" ataca passividade e mistificação
NELSON ASCHER
COLUNISTA DA FOLHA
O título da coletânea de ensaios e artigos de Reinaldo
Azevedo, "Contra o Consenso", é
explícito e apropriado. O autor
não é homem de meias palavras,
de insinuações enigmáticas ou de
juízos ocultos nas entrelinhas.
Suas opiniões são claras, diretas.
Quando ele gosta de algo, gosta;
quando não, então não. E o seu
não é um livro que exija intermediários e/ ou intérpretes.
Azevedo discute um leque de
assuntos amplo e atual: filmes e
autores recentes, alguns clássicos
que não envelheceram e a política,
em especial a do Brasil contemporâneo. Entre os escritores e poetas
que aborda, ele tem seus heróis
(Ariano Suassuna, Mario Faustino etc.) e seus vilões (particularmente a poesia concreta e a crítica
literária uspiana). Há também
gente que, como Drummond ou
Sá-Carneiro, habita uma zona
meio cinzenta: não são ruins, mas
tampouco tão bons como se diz.
Não é fácil julgar suas opiniões
culturais porque, felizmente, estas
não pertencem a nenhum dos
blocos ou partidos culturais reconhecidos. Como se sabe, aqui, e
não só aqui, o grosso das opiniões
vem em pacotes: quem aprecia A,
admira B e detesta C. Quem é de
esquerda lê esse romancista, enquanto quem lê aquele poeta é de
direita. Azevedo escapa de tanta
previsibilidade, fazendo seu recorte pessoal e independente.
Sua independência e a convicção de que cabe ao observador ou
comentador, antes de mais nada,
preservá-la são, justificando
igualmente o título, o que o livro
tem de melhor. Pois, em vez de se
entregar ao automatismo tedioso
de desafiar todo e qualquer consenso, o que ele parece atacar em
cada texto é a passividade preguiçosa ou dogmática dos que se deixam levar pelo espírito dos rebanhos. Assim, não há por que um
crítico não pudesse aderir (em
seus próprios termos) a um consenso justificado, como o que
consagrou Fernando Pessoa.
Nem há razão, além disso, para
que o leitor estabeleça necessariamente um consenso com o escritor, ou seja, concorde com todos
os seus pontos de vista: alguns são
mais bem argüidos do que os outros e, em certos casos (especialmente na breve nota sobre Drummond), o autor fica a nos dever,
para alicerçar suas teses, uma
análise substancialmente mais
minuciosa da obra do poeta mineiro. Nitidamente, embora um
conjunto mais sistematizado de
idéias subjaza a suas conclusões, a
variedade de temas e os limites do
tomo se combinam para iluminá-lo apenas em parte.
Se uma voz original como a sua
é bem-vinda no debate cultural,
ela é mais necessária do que nunca no político. As farpas mais
pontiagudas de Azevedo são, com
justiça, reservadas para essa esfera e, no seu âmbito, para a esquerda em geral e a intelectualidade
esquerdista brasileira em particular. Escancarando a falta de idéias
do PT, denunciando as bem-pagas mistificações antiamericanas
do cineasta americano Michael
Moore e revelando a mescla de inveja e admiração de que se nutre o
antiamericanismo, ele se insurge
contra nossos maiores e piores
consensos nacionais: o de que
certas questões não se discutem e
o de que tomar determinados
partidos é sempre tabu.
Contra o Consenso
Autor: Reinaldo Azevedo
Editora: Barracuda
Quanto: R$ 35 (256 págs.)
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