São Paulo, sábado, 21 de maio de 2005

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LIVROS

COLETÂNEA

Chega às livrarias reunião de artigos do jornalista Reinaldo Azevedo

"Contra o Consenso" ataca passividade e mistificação

NELSON ASCHER
COLUNISTA DA FOLHA

O título da coletânea de ensaios e artigos de Reinaldo Azevedo, "Contra o Consenso", é explícito e apropriado. O autor não é homem de meias palavras, de insinuações enigmáticas ou de juízos ocultos nas entrelinhas. Suas opiniões são claras, diretas. Quando ele gosta de algo, gosta; quando não, então não. E o seu não é um livro que exija intermediários e/ ou intérpretes.
Azevedo discute um leque de assuntos amplo e atual: filmes e autores recentes, alguns clássicos que não envelheceram e a política, em especial a do Brasil contemporâneo. Entre os escritores e poetas que aborda, ele tem seus heróis (Ariano Suassuna, Mario Faustino etc.) e seus vilões (particularmente a poesia concreta e a crítica literária uspiana). Há também gente que, como Drummond ou Sá-Carneiro, habita uma zona meio cinzenta: não são ruins, mas tampouco tão bons como se diz.
Não é fácil julgar suas opiniões culturais porque, felizmente, estas não pertencem a nenhum dos blocos ou partidos culturais reconhecidos. Como se sabe, aqui, e não só aqui, o grosso das opiniões vem em pacotes: quem aprecia A, admira B e detesta C. Quem é de esquerda lê esse romancista, enquanto quem lê aquele poeta é de direita. Azevedo escapa de tanta previsibilidade, fazendo seu recorte pessoal e independente.
Sua independência e a convicção de que cabe ao observador ou comentador, antes de mais nada, preservá-la são, justificando igualmente o título, o que o livro tem de melhor. Pois, em vez de se entregar ao automatismo tedioso de desafiar todo e qualquer consenso, o que ele parece atacar em cada texto é a passividade preguiçosa ou dogmática dos que se deixam levar pelo espírito dos rebanhos. Assim, não há por que um crítico não pudesse aderir (em seus próprios termos) a um consenso justificado, como o que consagrou Fernando Pessoa.
Nem há razão, além disso, para que o leitor estabeleça necessariamente um consenso com o escritor, ou seja, concorde com todos os seus pontos de vista: alguns são mais bem argüidos do que os outros e, em certos casos (especialmente na breve nota sobre Drummond), o autor fica a nos dever, para alicerçar suas teses, uma análise substancialmente mais minuciosa da obra do poeta mineiro. Nitidamente, embora um conjunto mais sistematizado de idéias subjaza a suas conclusões, a variedade de temas e os limites do tomo se combinam para iluminá-lo apenas em parte.
Se uma voz original como a sua é bem-vinda no debate cultural, ela é mais necessária do que nunca no político. As farpas mais pontiagudas de Azevedo são, com justiça, reservadas para essa esfera e, no seu âmbito, para a esquerda em geral e a intelectualidade esquerdista brasileira em particular. Escancarando a falta de idéias do PT, denunciando as bem-pagas mistificações antiamericanas do cineasta americano Michael Moore e revelando a mescla de inveja e admiração de que se nutre o antiamericanismo, ele se insurge contra nossos maiores e piores consensos nacionais: o de que certas questões não se discutem e o de que tomar determinados partidos é sempre tabu.


Contra o Consenso
    
Autor: Reinaldo Azevedo
Editora: Barracuda
Quanto: R$ 35 (256 págs.)



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