São Paulo, domingo, 21 de maio de 2006

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Gaiman lança livro e vai ao cinema e ao teatro

Em entrevista à Folha, autor britânico comenta o livro "Os Filhos de Anansi"

Trabalhando como produtor e roteirista em três filmes simultâneos, Gaiman diz que prefere se envolver para melhorar chance de sucesso

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL

O britânico Neil Gaiman, 46, é um escritor, mas, pelo barulho que o cerca, parece uma estrela do britpop.
Multidões de fãs acorrem a todos os festivais em que ele esteja autografando. Seu novo livro, "Os Filhos de Anansi"(Conrad Editora, 384 págs., R$ 55), já teve sua primeira edição esgotada no Brasil (10 mil exemplares) apenas na pré-venda.
É claro que a área em que Gaiman circula mais _os quadrinhos_ ajuda na popularidade, assim como seu estilo despojado. Mas sua fama é amparada em êxito de crítica, o que nem sempre ocorre na literatura _Paulo Coelho que o diga.
Gaiman falou à Folha sobre o novo livro e sobre as diversas adaptações de suas obras _para o cinema e até teatro.

FOLHA - "Os Filhos de Anansi"está sendo lançado no Brasil. É uma seqüência de "Deuses Americanos"?
NEIL GAIMAN - Não exatamente. Eu já tinha a idéia de escrever um livro cômico, tinha em mente uma história misturando horror e humor, que acabou sendo "Os Filhos de Anansi". Eu emprestei o personagem de Anansi [um deus da África ocidental] para "Deuses Americanos", que saiu antes, mas ele já estava criado para o novo livro.
Nele, eu queria protagonistas que não fossem brancos, eu quis brincar com as mitologias caribenha e africana. Acabou sendo o livro mais engraçado que eu já escrevi.
FOLHA - O sr. tem se voltado cada vez mais para a indústria cinematográfica. Como isso aconteceu?
GAIMAN - Acho que é coincidência. "Beowulf"[animação dirigida por Robert Zemeckis, estréia em 2007], por exemplo, é um roteiro que eu e Richard Avary escrevemos em 1998, mas não conseguimos fazer na época. "Stardust"[veja à dir.] está sendo rodado agora, mas poderia ter começado em 2002.
FOLHA - O sr. também está produzindo os filmes.
GAIMAN - É, mas isso significa apenas que eles me pedem conselhos e eu dou. Em "Stardust", eu tentei ajudar com o roteiro e uma série de outras coisas, mas, se você não está dirigindo, não está sob seu controle. Eu assisto ao Matthew dirigir o filme e fico de dedos cruzados.
FOLHA - Isso o incomoda?
GAIMAN - Se, daqui a três ou quatro anos, eu olhar os filmes que foram feitos e me sentir como Alan Moore [autor britânico de HQs que protesta contra adaptações de sua obra, como "V de Vingança"], então posso ficar chateado também. Por enquanto, quero ver se é possível aumentar a chance de um filme sair bom envolvendo-me diretamente com ele.
FOLHA - O sr. planeja dirigir?
GAIMAN - Eu gosto de dirigir [foi diretor do curta "A Short Film about John Bolton", 2003], mas acho que é escrevendo ficção que sou realmente diretor: nunca preciso cortar uma cena por questões de dinheiro ou de tempo, não tenho que me comprometer escalando o elenco. Espero dirigir um longa ainda, talvez a adaptação de "Morte - O Preço da Vida", mas a New Line diz há anos que vai produzir e o filme não começa, e eu tenho mais projetos.
FOLHA - E o sr. já escolheu a intérprete da Morte?
GAIMAN - Sim, já almocei com ela inclusive, mas se eu lhe disser quem é vai estar na internet assim que o jornal sair. E aí o estúdio vai ligar me cobrando e dizendo que será mais difícil negociar o salário etc.
FOLHA - Como surgiu seu enorme fã-clube brasileiro?
GAIMAN - Acho que tem muito a ver com o próprio país, com o jeito de ser, a sagacidade dos brasileiros. E as traduções de minhas obras também foram boas, isso ajuda. Infelizmente, estive pouco no país porque acontece algo incrível: os organizadores de eventos no Brasil me ligam e dizem "queremos que você venha para um evento especial". Eu acho fantástico, pergunto quando será, e eles respondem: "Na semana que vem". Aí eu digo que não dá para viajar assim, peço um aviso com seis meses, um ano de antecedência para que eu me programe. Por isso, só consegui ir duas vezes.

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