São Paulo, segunda-feira, 21 de maio de 2007

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Alice no país das maravilhas

Com turnê no Brasil a partir de junho, roqueiro lembra show em SP em 1974 para 80 mil pessoas e decreta: "Faltam vilões no rock"

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Alice Cooper gosta de falar de seu passado. E gosta muito de falar sobre o Brasil. Ele esteve aqui em 1995, no festival Monsters of Rock, mas, principalmente, ele esteve aqui em 1974. Foi o primeiro grande show internacional de rock no país. O norte-americano tocou para cerca de 80 mil pessoas no Palácio de Exposições do Anhembi, em São Paulo.
"Sempre adoramos o Brasil. E o show de 1974, em São Paulo, foi incrível, nunca me esqueço daquela apresentação. Nunca tinha visto um público daquele tamanho. Até hoje falo desse show para os meus amigos."
Aos 59 anos, Cooper conversou com a Folha por telefone a respeito de sua nova turnê pelo Brasil, que passa por São Paulo (3 de junho, no Credicard Hall), Belo Horizonte (5/ 6), Rio (6/6) e Curitiba (8/6).
Autor de álbuns clássicos como "Love It to Death" (1971) e "Billion Dollar Babies" (1973), em que reunia a rapidez do hard rock com os exageros do glam rock (plumas, androginia e roupas extravagantes), Alice Cooper contextualiza sua relevância para o rock atual:
"Alice Cooper é como Bowie, Elton John, Mick Jagger", diz o roqueiro, na terceira pessoa (Alice Cooper está para Vincent Damon Furnier assim como Pelé está para Edson Arantes do Nascimento...).
"Somos os roqueiros clássicos. Viemos de um período clássico. E as bandas daquela época ainda têm grande autoridade. Todos temos uns 30 discos lançados...", diz.
E ele pensa em se aposentar? "Talvez nos próximos 30 anos."
Entre os anos 60 e 70, Cooper foi um dos primeiros roqueiros a incorporar técnicas teatrais em suas apresentações. Ao vivo, encarna vários personagens, e, com o apoio de jogos de luzes, fumaça, guilhotina e até de uma cobra viva, encena suas letras como num "circo de horrores", como sua performance é conhecida.
"Faço isso desde o final dos anos 60. Depois muitos foram atrás. Bowie, Rob Zombie, Marilyn Manson, Slipknot. Mas fomos nós que começamos."
Cooper justifica as encenações de tortura e sadismo afirmando que "faltam caras maus no rock and roll".
"O rock é um mundo com muitos heróis, mas não tem vilões suficientes. Não tem caras maus, caras que você compararia a Jack, o Estripador, ou Drácula, ou Dr. Jekyl e Mr. Hyde. Precisamos de bons vilões no rock. Por isso comecei com Alice Cooper, como um vilão do rock, um personagem completamente diferente de, digamos, Paul McCartney. Um personagem que não fosse como os "caras legais"."
As apresentações de Cooper são como um filme de "terrir". "O show também tem muita comédia. Se você vai fazer coisas como enforcamentos e levar cobras vivas ao palco, deve fazer isso com humor."
Devido a suas letras absurdas e nonsense, desde os anos 70 Cooper já foi tachado de alienado. "Sou antipolítico. Não gosto de misturar política com rock. Política deveria ser deixada com os políticos", afirma.
"O rock é mais emocional, trata de amor, morte, comédia, tragédia, coisas do tipo. O rock deve ser unidimensional, falar sobre sexo, estilo de vida, sobre como somos hipócritas e cruéis. Seres humanos são cheios de dicotomia e inconsistências. Daria para falar disso por um dia inteiro..."
Três décadas atrás, Alice Cooper era colocado entre os artistas mais hedonistas e irresponsáveis do rock.
"Na época de "Billion Dollar Babies", tínhamos nosso avião particular. E, se estávamos na Europa e queríamos beber cerveja americana, simplesmente mandávamos buscar um carregamento de cerveja nos EUA. Seria muito mais fácil ir ao supermercado, mas não. Gastávamos milhares de dólares mandando um avião buscar caixas de cerveja... Não nos importávamos em gastar dinheiro. E era dessa forma que encarávamos as garotas", relembra.
"Vivíamos num período de excessos. Se você estava numa banda, você tinha que entrar nessa vida. Era como um rockstar deveria viver", completa.
E hoje? "Hoje o rock and roll é um mundo mais esperto. Não é mais boêmio como antes. As pessoas estão mais interessadas em fazer dinheiro e guardá-lo, em vez de gastá-lo. Os roqueiros têm cuidado com groupies. É uma época diferente."


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