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GUILHERME WISNIK
Intervenção oportuna
MuBE tem servido quase que exclusivamente a eventos comerciais, como feiras, desfiles de moda e festas
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O MUSEU Brasileiro da Escultura Marilisa Rathsam é um caso de flagrante usurpação do
interesse coletivo em favor da mesquinhez pessoal. Obra mestra do arquiteto Paulo Mendes da Rocha
aclamada internacionalmente, incluindo o projeto paisagístico de
Burle Marx (seu último projeto,
apenas parcialmente executado), o
MuBE tem servido, em seus 12 anos
de vida, quase que exclusivamente a
eventos comerciais de aluguel, como
feiras, desfiles de moda e festas.
O projeto, no entanto, é de uma
grandeza sem par. Interpretando de
modo original o programa, o arquiteto desmonta a idéia de edifício como um volume escultórico, construindo-o como uma sucessão de
platôs sem fachada, cobertos por
uma grande viga suspensa cuja "função" é eminentemente simbólica.
Ocorre que nesses 12 anos, em decorrência da inversão de prioridades
no uso dos seus espaços, o museu
tem sido continuamente desfigurado: teve guarda-corpos alterados, o
espaço de escritórios eliminado,
uma janela aberta na parede cega de
concreto junto ao café etc.
Hoje, o que mais chama a atenção
quando passamos em frente ao MuBE é o festival de banners, toldos e
automóveis em exposição, além das
grades que o separam do Museu da
Imagem e do Som e das calçadas lindeiras, impedindo-o de constituir-se como uma praça pública. Incompreensão ou má-fé? Basta dizer que
o edifício tem uma espacialidade seca e exigente, que resiste a transformar-se em uma casa de madame (já
que a presidente da sociedade de
amigos que administra o MuBE, e
"empresta" o seu nome ao museu,
mora em frente ao mesmo, tratando-o como o quintal da sua casa).
Identificando o desvio de função
nas atividades do museu, a prefeitura rescindiu recentemente a permissão de uso da área concedida em
1987 à Sociedade Amigos dos Museus, iniciando uma batalha judicial
que ainda pode durar muito tempo.
Organizado por artistas e críticos,
um abaixo-assinado em favor dessa
ação resume a questão de modo sensato: "Por que um espaço público,
cuja edificação (prédio e terreno)
custou aos cofres públicos mais de
R$ 35 milhões, deve permanecer exclusivo dos privilegiados que freqüentam lançamentos de produtos
de luxo e festas particulares?".
Nascida da resistência caprichosa
de moradores do Jardim Europa à
possível construção de um shopping
naquele terreno, a idéia de um museu de esculturas em São Paulo, no
entanto, ganhou legitimidade à medida que a sociedade a acolheu e realizou: por meio do aval da prefeitura,
que cedeu o terreno e arcou com
parte das despesas, de empresas importantes como a Votorantim, que
também custearam a obra, e de arquitetos de prestígio, que fizeram
propostas e julgaram um concurso
de projetos para o tema.
Está mais do que na hora da prefeitura retomar a posse desse importante bem cultural, de modo a
convertê-lo de fato no Museu da Escultura que até hoje não há no Brasil, preparado para acolher exposições relevantes e servir como um
centro de referência acerca do amplo acervo escultórico já existente,
mas disperso na cidade e no país.
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