São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 2008

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Crítica/"Changeling"

Minucioso e inclemente, diretor entrega a Jolie seu melhor papel

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

"Changeling" (a troca), que assumiu ontem a ponta na disputa pela Palma de Ouro deste ano, é um filme tanto de Clint Eastwood, seu diretor, quanto de sua protagonista, Angelina Jolie. Eastwood já visitara território semelhante o da violência contra crianças. Jolie nunca esteve melhor.
O ponto de partida é uma história real, que chacoalhou a polícia de Los Angeles no final da década de 1920. Uma mãe solteira e trabalhadora, Christina Collins, não encontra o filho Walter, nove anos, ao voltar para casa após um sábado extra de serviço. Cinco meses se passam e a polícia lhe entrega um outro menino, que se diz Walter. É meio palmo mais baixo e circuncidado.
Contra a parede por denúncias de corrupção, a polícia resiste à rejeição do garoto por Christina, internando-a num manicômio. Enquanto isso, há a investigação de um serial killer de crianças.
Revendo a filmografia de Eastwood, "Changeling" combina elementos de "Sobre Meninos e Lobos" (2003) e "Meia-noite no Jardim do Bem e do Mal" (1997). O primeiro (Oscar de ator ao presidente do júri aqui, Sean Penn) enfocava a barbárie contra crianças. O segundo era um elegante filme criminal de época.
Eastwood reconstitui o caso Collins de forma compassada, minuciosa e inclemente. Trata de ontem para falar também de hoje. São óbvias as ressonâncias com o recente desrespeito aos direitos individuais pelos EUA na "guerra ao terror".
E há Angelina Jolie. Seu personagem ecoa criações anteriores, sobretudo elementos da jovem perturbada que lhe valeu o Oscar de coadjuvante de "Garota, Interrompida" e da esposa em busca do marido de "O Preço da Coragem".
Tudo agora parece treino para sua mãe coragem de "Changeling". Fúria e fragilidade, inteligência e emoção, têmpera e ceticismo se mesclam num desempenho maior que prêmios, maior que filmes, maior que a vida.


Avaliação: ótimo

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