São Paulo, sábado, 21 de maio de 2011

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Malcolm McDowell homenageia Kubrick

Protagonista de "Laranja Mecânica" participou de sessão dedicada ao cineasta norte-americano em Cannes

Em debate com o crítico Michel Ciment, o ator relembrou bastidores das filmagens do célebre filme de 1971

PEDRO BUTCHER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM CANNES


As qualidades que levaram Malcolm McDowell a interpretar um dos personagens mais perturbadores da história do cinema -o violento Alex de "Laranja Mecânica" (1971)- não transpareceram na calma e bem-humorada conversa que ele manteve com o crítico francês Michel Ciment, ontem, na tradicional Leçon du Cinéma (aula de cinema) do Festival de Cannes.
A aula de McDowell, 68, fez parte de um quadro de homenagens ao diretor Stanley Kubrick que incluiu exibições especiais da versão restaurada de "Laranja Mecânica" e do documentário "Il Était une Fois Orange Mecanique" ("Era uma Vez Laranja Mecânica") na seção Cannes Classics.
McDowell esteve pela primeira vez em Cannes com "Se...", de Lindsay Anderson, que terminou levando a Palma de Ouro em 1969. E foi justamente ao ver "Se..." que Kubrick escolheu o ator para "Laranja Mecânica".
"Foi Christiane (viúva de Kubrick, presente na plateia) quem me contou essa história. Stanley tinha uma cabine de cinema em casa e havia sempre um projecionista de plantão. Ele pediu para ver "Se...", e, logo na minha entrada, apertou a campainha que se comunica com a cabine, pedindo para repetir a cena. Fez isso mais duas vezes e, depois, disse: "Acho que encontramos nosso Alex"."
McDowell pisou num palco pela primeira vez aos 11 anos. "Fui escolhido para estrelar um musical na escola e, quando me vi no palco, com as luzes cegando meus olhos, me senti em casa."
Depois de fazer um pequeno papel no filme "Poor Cow", de Ken Loach, que acabou sendo cortado da sala de montagem, McDowell teve sua grande chance no cinema como protagonista de "Se...", conto de rebeldia estudantil que se tornou um emblema da época.
"Filmamos "Se..." em 1968. Certo dia chegou ao set um exemplar do "London Times" trazendo na primeira página uma foto de estudantes em fúria na frente da Sorbonne. Lembro-me de Lindsay Anderson dizer: "Estamos fazendo um filme atualíssimo"."
Apaixonado por cinema, McDowell tomou como modelo o ídolo James Cagney.
"O maior ator do mundo. Amo sua energia. Era imprevisível e perigoso, você nunca sabia o que viria em seguida." Essa mesma energia McDowell invocou para viver Alex em "Laranja Mecânica" -outro filme que se tornaria um marco da época, retrato brutal da delinquência juvenil e crítica severa à violência do Estado.
McDowell conta que Kubrick era obsessivo, mas também divertido.
"Ficamos quase um ano trabalhando juntos, ele era uma figura adorável. Certo dia, depois de repetir o mesmo plano pela 20ª vez, falei para ele: "Agora entendo por que você gosta tanto de trabalhar com Peter Sellers. Ele pode te oferecer 40 opções de uma mesma fala de forma totalmente diferentes, para que você possa escolher depois". Não sei se tinha essa capacidade."
"Uma vez me disseram que eu era um ator de teatro muito cinematográfico", completou McDowell.
"Talvez tenham razão. Se você quiser que a plateia faça um close-up, basta falar mais baixo ou pausadamente. Se você quiser um "plano médio", basta fazer um pequeno gesto. E se quiser um plano à distância, pode fazer um grande movimento. Acredito que um ator pode montar sua performance no palco."


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