São Paulo, sábado, 21 de maio de 2011 |
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TRÉPLICA "TITÍLIA E O DEMONÃO" Livro ingênuo inocenta d. Pedro 1º nas trapaças da amante OSCAR PILAGALLO ESPECIAL PARA A FOLHA Em "Titília e o Demonão", Paulo Rezzutti é ingênuo ao avaliar a atitude de d. Pedro 1º diante dos favores pedidos pela marquesa de Santos. O imperador diz, numa carta, não poder atender à solicitação da amante por desejar "manter a justiça", o que é suficiente para o autor concluir: "Ele podia amá-la, mas não deixava de lado os negócios de estado para atender a seus caprichos". Rezzutti comprou as palavras de d. Pedro pelo valor de face. Esse é o ponto central da resenha publicada na Ilustrada em 7 de maio. Escrevi: "Faltou ceticismo para dar o devido desconto à versão imperial". Em sua réplica, em 14 de maio, Rezzutti simplesmente ignora o argumento. Ao fazer de conta que responde, dá como exemplo de sua cautela na interpretação da história oficial o fato de ter sido "o primeiro a rir" das juras de fidelidade de d. Pedro. Ora, não foi essa a questão levantada. Em relação ao caso extraconjugal, apenas observei que as cartas agora publicadas nada acrescentam à biografia dos amantes. O interesse público de uma história de alcova que envolve um dono do poder tem a ver com uma promiscuidade de outra natureza, aquela que não respeita a fronteira entre o público e o privado. NEGÓCIOS ESCUSOS Ao abonar o comportamento de d. Pedro, Rezzutti vai de encontro à historiografia, que é farta em relatos sobre os negócios escusos da marquesa. Em nome do imperador, ela cobrava propinas e praticava extorsões para viabilizar negócios e assegurar nomeações. O autor parece não levar em conta esse contexto. Em sua defesa afirma que eu repito "tolices e clichês com os quais a República achacou a Monarquia". Quais tolices? Quais clichês? Sim, no passado, a marquesa foi maltratada por historiadores, mas por razões de ordem moral. Ela era apenas a aventureira, a arrivista social, a amante que humilhava a mulher de d. Pedro, a princesa Leopoldina. Mas isso não altera o fato de que a origem de sua fortuna está situada em algum lugar entre a cama de d. Pedro e os corredores do palácio imperial. Não se trata de demonizar o "Demonão" ou de negar a relevância de serviços prestados ao país. EXPRESSÕES Mas isentá-lo de responsabilidade nesse caso, como se a marquesa agisse sem o seu consentimento, é uma tese que não para em pé. Em vez de discutir tais questões, Rezzutti preferiu implicar com expressões que eu usei. Disse que "valor de face" é um "idiotismo inglês". Bem, é só uma opinião, mas que eu respeito, sobretudo porque vinda de alguém que identifica certa dicção shakespeariana no "Big Brother Brasil". Já a sua conclusão -de que, devido à menção a "romance epistolar", eu não teria gostado do livro por não ser obra de ficção- é intelectualmente desonesta, pois torce o sentido das minhas palavras. O que eu não gosto é de história mal contada. OSCAR PILAGALLO é jornalista e autor de "A História do Brasil no Século 20" (Publifolha). Texto Anterior: Futuro do jornal impresso foi tema de debate Próximo Texto: Livros: Ficção Índice | Comunicar Erros |
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