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ANÁLISE
Oscar poderá ter dois personagens chamados Josué
LEON CAKOFF
enviado especial a Cannes
A tragicomédia "A Vida é Bela", de Roberto Benigni (Itália),
exibida no último domingo em
Cannes, rompe com o tabu do Holocausto, faz rir e chorar e, ainda
por cima, tem um menino chamado Josué -como "Central do
Brasil", de Walter Salles.
Como o filme está sendo impulsionado com distribuição internacional da Miramax, habitual manipuladora dos finalistas do Oscar, a próxima rodada dos prêmios da Academia de Hollywood
poderá ter dois personagens chamados Josué.
A maratona de projeções em
Cannes apresentou boas seleções
como não se via há tempos e teve
momentos notáveis.
Ainda dentro da competição,
"A Vendedora de Rosas", de Victor Gaviria (Colombia), faz uma
filmagem alucinante com crianças
de rua de Medellín. Fabulosa narrativa de sobrevivência com pequenos junkies que cheiram cola
de sapateiro o tempo todo.
"Meu Nome É Joe", de Ken
Loach (Inglaterra), é sério candidato à Palma de Ouro. Tem momentos marcantes com homenagem ao futebol brasileiro, citando
Pelé e Rivelino. O melhor filme já
feito sobre as tragédias de bastidores provocadas pelas drogas.
A seleção Um Certo Olhar destacou "Lulu sobre a Ponte", de
Paul Auster (EUA). O escrito estréia seu delírio verborrágico na
linguagem do cinema.
Se a literatura tudo permite, o cinema não. Lulu se joga da ponte.
O escritor arremata o final do filme como se tudo não fosse nada
mais que o delírio de um moribundo.
"Paixão", de Gyrgy Feher
(Hungria), é mais um delírio em
preto-e-branco, refilmagem da
tragédia "O Destino Bateu a sua
Porta", de James Cain. Lembra
"Satantango", de Bela Taar, que
tinha mais de oito horas. Este tem
136 minutos.
O ciclo Sessão Especial exibiu
"Inquietude", de Manoel de Oliveira (Portugal). O eterno e genial
Oliveira (90 anos no dia 11 de dezembro) continua cutucando a
morte com vara curta.
O tema abre o filme com a encenação de uma peça sobre o suicídio. O amor barroco dos anos 30
de um poeta por uma prostituta de
salão remete a narrativa às tragédias gregas com a participação especial de Irene Papas.
Por fim, "Fear and Loathing in
Las Vegas", de Terry Gilliam
(EUA), é a maior apologia às drogas já ilustrada pelo cinema.
Tem grandeza visual como tudo
que o cineasta de "Os 12 Macacos" costuma fazer. Os efeitos especiais sobre os efeitos do LSD são
brilhantes.
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