São Paulo, quinta, 21 de maio de 1998

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ANÁLISE
Oscar poderá ter dois personagens chamados Josué

LEON CAKOFF
enviado especial a Cannes

A tragicomédia "A Vida é Bela", de Roberto Benigni (Itália), exibida no último domingo em Cannes, rompe com o tabu do Holocausto, faz rir e chorar e, ainda por cima, tem um menino chamado Josué -como "Central do Brasil", de Walter Salles.
Como o filme está sendo impulsionado com distribuição internacional da Miramax, habitual manipuladora dos finalistas do Oscar, a próxima rodada dos prêmios da Academia de Hollywood poderá ter dois personagens chamados Josué.
A maratona de projeções em Cannes apresentou boas seleções como não se via há tempos e teve momentos notáveis.
Ainda dentro da competição, "A Vendedora de Rosas", de Victor Gaviria (Colombia), faz uma filmagem alucinante com crianças de rua de Medellín. Fabulosa narrativa de sobrevivência com pequenos junkies que cheiram cola de sapateiro o tempo todo.
"Meu Nome É Joe", de Ken Loach (Inglaterra), é sério candidato à Palma de Ouro. Tem momentos marcantes com homenagem ao futebol brasileiro, citando Pelé e Rivelino. O melhor filme já feito sobre as tragédias de bastidores provocadas pelas drogas.
A seleção Um Certo Olhar destacou "Lulu sobre a Ponte", de Paul Auster (EUA). O escrito estréia seu delírio verborrágico na linguagem do cinema.
Se a literatura tudo permite, o cinema não. Lulu se joga da ponte. O escritor arremata o final do filme como se tudo não fosse nada mais que o delírio de um moribundo.
"Paixão", de Gyrgy Feher (Hungria), é mais um delírio em preto-e-branco, refilmagem da tragédia "O Destino Bateu a sua Porta", de James Cain. Lembra "Satantango", de Bela Taar, que tinha mais de oito horas. Este tem 136 minutos.
O ciclo Sessão Especial exibiu "Inquietude", de Manoel de Oliveira (Portugal). O eterno e genial Oliveira (90 anos no dia 11 de dezembro) continua cutucando a morte com vara curta.
O tema abre o filme com a encenação de uma peça sobre o suicídio. O amor barroco dos anos 30 de um poeta por uma prostituta de salão remete a narrativa às tragédias gregas com a participação especial de Irene Papas.
Por fim, "Fear and Loathing in Las Vegas", de Terry Gilliam (EUA), é a maior apologia às drogas já ilustrada pelo cinema.
Tem grandeza visual como tudo que o cineasta de "Os 12 Macacos" costuma fazer. Os efeitos especiais sobre os efeitos do LSD são brilhantes.



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