São Paulo, sexta-feira, 21 de junho de 2002

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MÚSICA/LANÇAMENTOS

POP

Chegam ao Brasil discos de George Harrison e Ringo Starr

Metade "B" dos Beatles ganha álbuns históricos

MARCELO VALLETTA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

George Harrison e Ringo Starr, o "lado B" do maior grupo de música pop da história, só puderam expressar melhor a extensão de seu talento após Lennon e McCartney decidirem pôr um fim aos Beatles. Lançados por aqui em CD apenas agora, cinco álbuns de Harrison e um de Starr ajudam o fã brasileiro a entender as qualidades e os defeitos da metade menos popular dos "fabs".
A grande surpresa é o lançamento dos dois primeiros discos solo de Harrison. Gravados enquanto os Beatles estavam em plena atividade, "Wonderwall Music" (68) e "Electronic Sound" (69) deixam as guitarras e a música pop em segundo plano.
Trilha do filme "Wonderwall", é também o primeiro disco solo de um beatle e o inaugurador do selo Apple. Gravado em Londres e em Bombaim, logo após os Beatles lançarem "Magical Mystery Tour" (67), "Wonderwall Music", combina o rock sessentista inglês com música indiana.
"Electronic Sound" é mais surpreendente, embora inferior. A idéia de que o discreto guitarrista dos Beatles tenha sido um pioneiro da música eletrônica é mesmo estranha apesar de verdadeira.
Harrison já dá a dica de como o álbum é desafiador na ilustração da contracapa, onde está escrito "lute com ele" em inglês. Se você gosta de escutar "Revolution 9" repetidamente, vale a pena conhecer esta raridade.
Os outros três CDs de Harrison que chegam ao Brasil registram o começo de sua decadência criativa. "Living in the Material World" (73) é o sucessor de sua obra-prima, "All Things Must Pass" (70).
Contendo o hit "Give me Love (Give me Peace on Earth)" -que Marisa Monte regravou-, o álbum traz George tocando todas as guitarras, o que não acontecia em "All Things".
A faixa "Sue me, Sue you Blues" reclama da acusação de que "My Sweet Lord", o maior hit solo do músico, seria plágio de "He&'s So Fine", canção do The Chiffons.

Fase difícil
O álbum que o sucede, "Dark Horse" (74), é também envolto em problemas. Gravado às pressas para a primeira turnê do guitarrista desde que os Beatles haviam parado de excursionar, em 66, o disco traz Harrison rouco, convalescendo de uma laringite.
Como se isso não bastasse, Patti, sua mulher, tinha pulado a cerca com Eric Clapton. Ciente da situação, Harrison adicionou este verso a "Bye Bye Love", sucesso dos Everly Brothers: "Lá vai nossa mulher/ com "você sabe quem'/ espero que ela esteja feliz/ e o velho "Clapper" também...".
Em "Extra Texture Read All about It" (75), Harrison recupera o bom humor e sua carreira parece voltar aos eixos. Mas, apesar do sucesso "You" e de uma de suas mais belas baladas, "The Answer's at the End", suas músicas passam longe de seus melhores momentos nos Beatles e no início de sua carreira solo.
Ringo Starr é um dos sujeitos mais sortudos do mundo. Entrou nos Beatles (e para a história) assim que o grupo conseguiu um contrato de gravação. Como compositor, assinou sozinho apenas duas músicas nos discos do grupo e suas mais famosas interpretações são de músicas da dupla Lennon/McCartney.
Após o fim da banda, seguiu tocando nos álbuns de seus três ex-companheiros, que não se esqueceram de lhe fornecer músicas e de participar de seus discos.
"Goodnight Vienna" (74), seu quarto disco solo, é uma amostra de que, "com uma ajudinha dos amigos", Starr podia, sim, brilhar.
Gravado na cola do sucesso "Ringo" (73) -que reuniu os quatro beatles num mesmo disco, embora em faixas diferentes-, o álbum traz convidados de peso, como John Lennon, Elton John, Robbie Robertson e Dr. John, além de Harrison e McCartney nas faixas-bônus.
Neste, que é o seu segundo melhor disco, o bonachão Ringo faz o que melhor sabe fazer: festa.



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