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"A MORTE DE DANTON"
Viver é nada mais que teatro
EM BERLIM
Em 1998, "A Morte de Danton", de Georg Büchner, foi
encenada na última temporada
com remanescentes do grupo de
Heiner Müller na direção do Berliner Ensemble, de Bertolt Brecht.
Peça que trata do fracasso da
Revolução Francesa, ela poderia
ser uma metáfora para a capitulação do grupo de Müller à frente
do teatro berlinense, obrigado a
receber Claus Peymann como novo chefe. A direção do espetáculo
foi do norte-americano Robert
Wilson, que, com sua refinada estética, tirou de foco a questão política. Entre seus trunfos, estava a
participação da atriz Edith Clever,
a predileta de Peter Stein, do
Schaubühne.
Agora em 2001, num momento
de turbulência à frente do Schaubühne, após provocar certa frustração por não realizar sucessos
no teatro, Thomas Ostermeier encena também "A Morte de Danton". A peça, que estreou em 31 de
março, é vista hoje no Festival de
Teatro de Avignon. Ao tratar do
inevitável fracasso humano em
momentos de grande transformação, Ostermeier pode estar falando de si próprio. Em todo caso,
o inevitável é, ao menos, reforçado na montagem de Ostermeier.
O espetáculo tem início com referência ao teatro de marionetes:
atores movimentam-se como se
conduzidos por algo superior, o
que tem muito a ver com a própria frustração que Büchner tem
com a Revolução Francesa, em
seu texto de 1835.
O autor alemão, no início da peça, deixa claro que irá tratar de
morte, quando Danton fala de túmulo. Assim também faz Ostermeier ao utilizar como cenário tecidos vermelho-sangue no pequeno palco criado sobre o palco.
Aqui mais uma referência: viver é
nada mais que teatro.
"A Morte de Danton" trata do
conflito entre duas das principais
lideranças da Revolução Francesa, de 1789: Danton e Robespierre.
Ela ocorre no auge do terror no
movimento, quando Danton é
condenado à morte na guilhotina,
em 1794, como contra-revolucionário.
Em sua montagem, Ostermeier
segue o texto na íntegra, no alemão de 1835, o que leva a peça a
ter três horas e meia. É sua primeira montagem de um clássico
no Schaubühne, o que provoca
certa surpresa por não fazer referências contemporâneas. Sua viagem é na própria encenação, sua
pesquisa é no trabalho dos atores.
Nos 55 papéis do espetáculo, 13
atores se revezam. Alguns homens fazendo também papéis femininos, e mulheres interpretando personagens masculinos. É
parte da estratégia do diretor de
evitar o realismo. Assim, são usados até mesmo típicos elementos
brechtianos, como música ao vivo
entre as cenas e atores cantando.
Pequenos outros efeitos reforçam
ainda a negação do ilusionismo,
como usar a cabeça de corvos em
alguns deputados.
Com a simples encenação, o
destaque cabe de fato aos atores.
Versáteis, eles dominam a cena,
característica importante das
montagens na história do Schaubühne. Merecem ser citados Kay
Bartholomäus Schulze, como
Danton; Tilo Werner, no papel de
Robespierre; e André Szymanski,
que, entre os cinco personagens
que desempenha, encarna também Julie, a mulher de Danton.
Quem viu "Personakreins 3.1",
do dramaturgo sueco Lars Norén,
peça que Ostermeier abriu sua
temporada no Schaubühne, em
2000, pode estranhar a montagem
de "A Morte de Danton". Mas, na
verdade, há muito em comum:
respeito ao texto, valorização dos
autores, efeitos inteligentes de encenação. Ou seja, ótimo teatro.
(FABIO CYPRIANO)
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