São Paulo, quarta-feira, 21 de julho de 2004

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ANÁLISE

Maluf enfrenta a mídia com prepotência

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

A desenvoltura e o destemor com que o candidato Paulo Maluf enfrenta a mídia podem se voltar contra ele.
Desde que, em meio a sérias acusações de envio de dinheiro ilegal para o exterior, o candidato não só confirmou sua candidatura como passou a uma ofensiva eleitoral espantosa, seu desempenho nos meios de comunicação se tornou assunto.
Em entrevistas concedidas a programas diversos antes do início da campanha, no uso do tempo gratuito de rádio e TV a que seu partido tem direito e na sua participação na série de entrevistas que o programa "Roda Viva", da TV Cultura, vem fazendo com os candidatos à Prefeitura de São Paulo, Maluf adotou uma tática ofensiva que parecia poderosa.
Procurou transformar as acusações que lhe eram feitas em trunfos pessoais. Ostentou a riqueza com o orgulho de quem teria trabalhado por ela e portanto não precisaria roubar. Impressionou a capacidade do candidato de ignorar evidências que se apresentavam contra ele. E a possível força de convencimento eleitoral daí advinda. Cheio de si, no entanto, Maluf parece estar provocando o feitiço contra si mesmo. O excesso de autoconfiança se traduz em prepotência.
O candidato invadiu a UTI de um hospital -lugar onde só pessoas autorizadas, em horários especiais, podem entrar. A transgressão mereceu a devida atenção da mídia. Só para terminar em mau agouro no dia seguinte, quando a morte do paciente visitado recebeu igual destaque.
Reynaldo Azevedo, como bem salientou Gilberto de Mello Kujawski em "O Estado de São Paulo" do último dia 15, chegou perto de desarticular o discurso preconceituoso do candidato.
Os próprios movimentos impulsivos do "animal midiático" em que Maluf se transforma quando se vê em frente às câmeras ameaçam o sucesso de sua empreitada eleitoral e judicial. A superexposição incomoda.


Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP


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