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"Achei que Raul Cortez ia escapar; não deu, mas era um grande cara"
Mário Bortolotto conta suas experiências com o ator, que morreu de câncer
MÁRIO BORTOLOTTO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Raul tentou assistir a um espetáculo do nosso grupo. Justamente naquele dia estava lotado. Raul conseguiu entrar
usando a influência dele. Só sei
que Linari, que é meu amigo e
também não tinha conseguido
ingresso, colou nele e falou para o funcionário do teatro: "Estou com o Raul".
Não deu outra. Ele entrou e
assistiu à peça.
Depois do espetáculo, Raul
foi falar comigo, comprou alguns livros e gravou um depoimento muito emocionado para
um documentário nosso. Foi
assim que conheci esse ator
"monumental" (como bem disse Paulo Cesar Pereio) e que
nos deixou, na última terça.
Tempo depois, ele se mostrou interessado em produzir e
encenar dois textos de minha
autoria. Ele me procurou e
acertamos tudo. Então me pediu a indicação de um diretor.
Indiquei Fauzi Arap, que é, sem
nenhuma dúvida, o maior diretor de teatro do Brasil.
Os dois, de temperamento
difícil, não conseguiram se
acertar e se desentenderam na
primeira leitura. Uma pena.
Juntos poderiam ter feito um
espetáculo memorável. Não foi
o que aconteceu. Não ficou legal. Mas isso de maneira nenhuma abalou a admiração que
sempre tive por ele e pelo desejo que ele tinha de procurar algo novo e ousado.
Quando fiquei sabendo que
estava doente, sempre achei
que ele ia sair dessa. Mas ele
não conseguiu escapar e, na
terça-feira, quando li a notícia,
fiquei muito triste. Ele era um
grande cara.
Quando eu me for também e
São Pedro quiser barrar minha
entrada, vou usar o método do
Linari. Vou olhar firme na cara
dele e dizer: "Estou com o
Raul". Essa é a senha. Boa viagem, brother.
MÁRIO BORTOLOTTO é dramaturgo, diretor de
teatro e ator; sua peça "À Meia-Noite um Solo
de Sax na Minha Cabeça" foi estrelada por Raul
Cortez
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