São Paulo, sexta-feira, 21 de julho de 2006

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Música

Não esperava tanto, diz autor de "You're Beautiful"

Cantor britânico fala à Folha sobre o sucesso global de sua música grudenta

Canção teria sido banida de uma rádio inglesa a pedido de ouvintes; músico diz que isso é invenção da mídia e se espanta com fama no Brasil


MARCO AURÉLIO CANÔNICO
ENVIADO ESPECIAL A OXFORD

Fim de tarde de um sábado ensolarado e milhares de ingleses estão presos em um congestionamento a caminho de um show de James Blunt -o autor de "You're Beautiful", hit que tocou até o limite do suportável (ou, talvez, um pouco além dele) em rádios brasileiras, inglesas, americanas e mundo afora.
A capacidade deste jovem de 28 anos -ex-comandante da tropa de paz do Exército inglês no Kosovo- de mobilizar tanta gente bem na hora em que a Inglaterra joga as quartas-de-final da Copa do Mundo é um sinal de sua popularidade, conquistada já no disco de estréia.
"Eu queria ser músico, registrar minhas canções, mas não esperava virar um sucesso mundial. É surpreendente que as pessoas se identifiquem com as canções em diferentes países", Blunt diz à Folha, no trailer que lhe serve de camarim, na área externa do palácio de Blenheim, em Oxford.
Entre os "diferentes países", causa-lhe espanto que no longínquo e tropical Brasil "You're Beautiful" tenha sido campeã de execução em rádios.
"Eu soube da popularidade da música no Brasil, achei inacreditável, principalmente por ser em inglês. Na Inglaterra não damos tanta atenção a músicas em línguas estrangeiras, por isso acho realmente uma honra ser sucesso no seu país."
Apesar de ter sido catapultado para o estrelato da noite para o dia, Blunt tenta seguir a linha "a fama não me afeta" -ele destaca, por exemplo, como viajou até o local do show no mesmo ônibus que a banda e ficou acampado com eles.
O histórico familiar de Blunt -herdeiro de uma longa geração de militares- ganhou destaque à medida que "Back to Bedlam", seu álbum de estréia, começou a galgar as paradas.
Além de ter sido forçado pela pressão paterna a se alistar no Exército, ele também precisou driblar a total falta de incentivo musical em casa, onde a única coisa que se ouvia era um "Parabéns para Você" ocasional.

Carreira militar
A experiência no Exército (onde chegou a capitão) também é considerada proveitosa por Blunt. Além de ter composto a antibelicista "No Bravery" durante sua temporada no Kosovo, em 2001, ele utiliza em sua atual carreira o que aprendeu em termos de organização.
"Estar em turnê é exatamente como estar no Exército. Antes eu rodava o mundo em um tanque, agora é em um ônibus, mas, nos dois casos, se trata de conviver com diversas pessoas em um espaço limitado", diz.
Como músico, a guerra de Blunt parece ser contra a imprensa, como a Folha descobre ao perguntar sobre a história de que "You're Beautiful" teria sido banida de uma rádio inglesa, a pedido dos ouvintes.
"Isso foi inventado pela imprensa inglesa, porque é assim que fazem dinheiro. A verdade é que a rádio tocou a música todo dia por 14 meses e, depois desse tempo, anunciou que iria parar de tocar "You're Beautiful" e começar a tocar outras canções do disco", explica.
A reportagem também experimenta um pouco da artilharia quando pergunta se ele não teme virar um "one hit wonder", o artista que estoura com uma música e depois desaparece.
"Esse é o tipo de conceito criado por jornalistas, não por músicos. O que nos importa é o sucesso musical, não financeiro. Não interessa quantas cópias você vende, mas o quanto você se conecta às pessoas através da música", finaliza Blunt.


O jornalista MARCO AURÉLIO CANÔNICO viajou a Oxford a convite da Warner Music

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