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Música
Não esperava tanto, diz autor de "You're Beautiful"
Cantor britânico fala à Folha sobre o sucesso global de sua música grudenta
Canção teria sido banida de
uma rádio inglesa a pedido
de ouvintes; músico diz que
isso é invenção da mídia e se
espanta com fama no Brasil
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
ENVIADO ESPECIAL A OXFORD
Fim de tarde de um sábado
ensolarado e milhares de ingleses estão presos em um congestionamento a caminho de um
show de James Blunt -o autor
de "You're Beautiful", hit que
tocou até o limite do suportável
(ou, talvez, um pouco além dele) em rádios brasileiras, inglesas, americanas e mundo afora.
A capacidade deste jovem de
28 anos -ex-comandante da
tropa de paz do Exército inglês
no Kosovo- de mobilizar tanta
gente bem na hora em que a Inglaterra joga as quartas-de-final da Copa do Mundo é um sinal de sua popularidade, conquistada já no disco de estréia.
"Eu queria ser músico, registrar minhas canções, mas não
esperava virar um sucesso
mundial. É surpreendente que
as pessoas se identifiquem com
as canções em diferentes países", Blunt diz à Folha, no trailer que lhe serve de camarim,
na área externa do palácio de
Blenheim, em Oxford.
Entre os "diferentes países",
causa-lhe espanto que no longínquo e tropical Brasil "You're
Beautiful" tenha sido campeã
de execução em rádios.
"Eu soube da popularidade
da música no Brasil, achei inacreditável, principalmente por
ser em inglês. Na Inglaterra
não damos tanta atenção a músicas em línguas estrangeiras,
por isso acho realmente uma
honra ser sucesso no seu país."
Apesar de ter sido catapultado para o estrelato da noite para o dia, Blunt tenta seguir a linha "a fama não me afeta" -ele
destaca, por exemplo, como
viajou até o local do show no
mesmo ônibus que a banda e ficou acampado com eles.
O histórico familiar de Blunt
-herdeiro de uma longa geração de militares- ganhou destaque à medida que "Back to
Bedlam", seu álbum de estréia,
começou a galgar as paradas.
Além de ter sido forçado pela
pressão paterna a se alistar no
Exército, ele também precisou
driblar a total falta de incentivo
musical em casa, onde a única
coisa que se ouvia era um "Parabéns para Você" ocasional.
Carreira militar
A experiência no Exército
(onde chegou a capitão) também é considerada proveitosa
por Blunt. Além de ter composto a antibelicista "No Bravery"
durante sua temporada no Kosovo, em 2001, ele utiliza em
sua atual carreira o que aprendeu em termos de organização.
"Estar em turnê é exatamente como estar no Exército. Antes eu rodava o mundo em um
tanque, agora é em um ônibus,
mas, nos dois casos, se trata de
conviver com diversas pessoas
em um espaço limitado", diz.
Como músico, a guerra de
Blunt parece ser contra a imprensa, como a Folha descobre
ao perguntar sobre a história
de que "You're Beautiful" teria
sido banida de uma rádio inglesa, a pedido dos ouvintes.
"Isso foi inventado pela imprensa inglesa, porque é assim
que fazem dinheiro. A verdade
é que a rádio tocou a música todo dia por 14 meses e, depois
desse tempo, anunciou que iria
parar de tocar "You're Beautiful" e começar a tocar outras
canções do disco", explica.
A reportagem também experimenta um pouco da artilharia
quando pergunta se ele não teme virar um "one hit wonder",
o artista que estoura com uma
música e depois desaparece.
"Esse é o tipo de conceito
criado por jornalistas, não por
músicos. O que nos importa é o
sucesso musical, não financeiro. Não interessa quantas cópias você vende, mas o quanto
você se conecta às pessoas através da música", finaliza Blunt.
O jornalista MARCO AURÉLIO CANÔNICO viajou a Oxford a convite da Warner Music
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