São Paulo, segunda-feira, 21 de julho de 2008

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Dercy será enterrada com festa em sua cidade natal

Com samba feito em sua homenagem pela escola Unidos da Viradouro, em 1992, último velório e enterro acontecem amanhã em Santa Maria Madalena (RJ)

Mais de 600 pessoas foram ontem ao velório no Rio; Marília Pêra disse que a atriz foi "fonte de muitas vertentes atuais" do teatro


FABIANE ROQUE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NO RIO

Paetês dourados, maquiagem e peruca impecáveis. Foi assim que o corpo da comediante Dercy Gonçalves foi velado ontem na sede da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). O livro de presença registrou a vinda de mais de 600 pessoas. O corpo da atriz chega hoje à sua cidade natal, Santa Maria Madalena (a 223 km do Rio), onde será recebido com festa.
Como era o desejo da própria Dercy, no lugar de marcha fúnebre, a trilha sonora do velório será o samba-enredo feito em sua homenagem pela escola de samba Unidos da Viradouro, para o desfile de 1992.
O corpo será enterrado amanhã para coincidir com os festejos pelo dia da padroeira da sua cidade. Dercy costumava participar do culto e teria dito que gostaria de morrer no dia da padroeira.
A comediante morreu no sábado, aos 101 anos, no hospital São Lucas, no Rio, vítima de uma pneumonia.
No velório de ontem, familiares e amigos destacaram sua alegria e irreverência durante a vida. Amigos da velha guarda, como as ex-vedetes Virgínia Lane, Ester Tassitano, o compositor Billy Blanco e a cantora Adelaide Quioso.
A única filha, Dercimar, encarou a a morte da mãe como o fim de uma longa jornada cheia de conquistas e que por isso não havia motivo para tristezas. Ela destacou que Dercy conseguiu viver para receber toda a recompensa de sua luta e seu trabalho.
"Ela resgatou tudo. Isso aqui não é um momento infeliz. Tem tudo isso, todo mundo prestigiando. Acho que isso conforta a ela e a mim também", declarou Dercimar.
A atriz Marília Pêra, que dirigirá a peça "Dercy por Fafy", em homenagem à atriz, prevista para estrear em março do ano que vem, destacou a influência de Dercy para o teatro brasileiro.
"A Dercy deixou para a gente um estilo novo. Foi ela que transformou o teatro brasileiro no que ele é. Ela é a fonte de muitas vertentes atuais", afirmou a atriz.
Marília acrescentou que sua primeira lembrança ligada a Dercy é de ainda pequena, quando seu pai (Manoel Pêra, que também era ator) comentou em casa sobre uma nova atriz muito corajosa.
"Ela dizia palavrões em uma época em que atriz tinha que tomar cuidado para não ser vista como prostituta. Brigava corpo-a-corpo com os censores; quebrava todas as regras do comportamento feminino no teatro", lembrou Marília.

Além dos palavrões
Os amigos mais próximos lembraram que, na vida pessoal, Dercy era alguém que ia muito além dos palavrões que inúmeras vezes repetia publicamente.
"Muito mais importante do que a caricatura da Dercy é a Dercy revolucionária, uma artista incrível, sempre solidária com os colegas de trabalho", afirmou o ator Stepan Nercessian, presidente do Retiro dos Artistas, diversas vezes visitado pela comediante.
O caricaturista Ziraldo, que a entrevistou em um momento de relançamento do jornal "O Pasquim", apontou a morte de Dercy como um pedaço do século 20 que acaba:
"Um século não acaba em um dia, acaba aos poucos. Com a morte da Dercy, ele acaba quase completamente".
O cantor Agnaldo Timóteo, que também foi prestar sua última homenagem à comediante, disse que Dercy "brincou com a vida".


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