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LITERATURA
Correspondência mantida em segredo por 52 anos deve estar disponível para consulta a partir de hoje, na USP
IEB mostra cartas de Mário de Andrade
PATRICIA DECIA
da Reportagem Local
Finalmente hoje, após ser mantida em segredo por 52 anos, a correspondência recebida pelo escritor Mário de Andrade (1893-1945)
estará aberta para consulta pública
no IEB (Instituto de Estudos Brasileiros), na Cidade Universitária da
USP (Universidade de São Paulo).
São cartas inéditas de Manuel
Bandeira, Carlos Drummond de
Andrade, Villa-Lobos, Pedro Nava, Murilo Rubião, Fernando Sabino, Prudente de Moraes e Erico
Verissimo, entre outros, endereçadas ao autor de "Macunaíma".
A correspondência foi lacrada
após a morte de Mário, em 1945,
respeitando pedido feito em testamento. Há dois anos, terminou o
prazo estipulado pelo escritor para
que o sigilo fosse mantido.
No entanto, uma comissão
-que incluiu o escritor Antonio
Candido e o sobrinho de Mário,
Carlos Augusto de Andrade-,
criada para deliberar sobre o material, decidiu revelar as cartas somente quando o trabalho de catalogação, iniciado em 1995, estivesse terminado. É isso o que acontece agora.
Não há horário marcado, nem
previsão de que se realize uma cerimônia oficial. Segundo a professora Telê Ancona Lopes, responsável pela organização do Arquivo
Mário de Andrade, trata-se simplesmente de deixar os catálogos à
disposição de quem quiser vê-los.
Eles trariam um resumo de cada
carta recebida, as cartas enviadas
por Mário de Andrade e índice remissivo das pessoas citadas. São
cerca de 7.000 documentos.
Ainda não foi divulgado em detalhes como será o acesso ao conteúdo integral das cartas e aos originais. A princípio, segundo o IEB,
haveria um problema jurídico.
De acordo com Lopes, apenas os
documentos pertencem ao IEB;
seu conteúdo intelectual seria de
posse do autor das cartas ou de sua
família. Portanto, somente com a
autorização de um familiar o conteúdo poderia ser divulgado.
Além disso, uma carta enviada
por Andrade ao poeta Manuel
Bandeira continua lacrada, na Casa de Ruy Barbosa, no Rio de Janeiro (leia texto na página).
A revelação é considerada um
dos mais importantes acontecimentos literários brasileiros dos
últimos anos. Ela deve mostrar novos aspectos sobre os artistas e o
meio literário ligado ao modernismo entre as décadas de 20 e 40.
"A sua correspondência encherá volumes e será porventura o
maior monumento do gênero, em
língua portuguesa: terá devotos
fervorosos e apenas ela permitirá
uma vista completa da sua obra e
do seu espírito", escreveu Antonio
Candido em artigo publicado um
ano após a morte de Andrade, na
"Revista do Arquivo Municipal".
Na última sexta-feira, a Folha
antecipou o trecho de uma carta de
Manuel Bandeira ao escritor, contando sua mudança de casa para a
Lapa (Rio de Janeiro), em 1933.
A correspondência entre Bandeira e Andrade é considerada o
principal conjunto dentro do acervo do IEB. São 23 anos de troca de
cartas entre os dois escritores, de
1922 até 1944, numa frequência semanal até 1939.
Esses documentos foram reunidos na tese de mestrado "Diálogo
Epistolar: Edição da Correspondência Mário de Andrade-Manuel
Bandeira", defendida no final de
junho por Marcos Antônio de Moraes, na USP.
Segundo o crítico literário e professor de literatura da USP Davi
Arrigucci Jr., as cartas têm valor
como documento de crítica literária, registro histórico e amostra
das relações pessoais dos intelectuais do período. Arrigucci, juntamente com o professor Luiz Roncari, participou da banda que avaliou a tese de Moraes.
A correspondência de Mário de
Andrade era a única parte inédita
de um acervo bem maior, sediado
no IEB.
São 30 mil documentos -entre
textos jornalísticos, pesquisas etnográficas e musicais, correspondência, manuscritos de obras-,
uma biblioteca de 17 mil volumes,
três coleções de artes plásticas e
objetos pessoais.
Instituto de Estudos Brasileiros (IEB):
Av. Prof. Mello Moraes, travessa 8, nš 140,
Cidade Universitária, Universidade de São
Paulo (USP), tel. 011/818-3199
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