São Paulo, terça-feira, 21 de agosto de 2001

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Jornalista teve relação dúbia com censura

DA REPORTAGEM LOCAL

O mesmo Flávio Cavalcanti que teve seu programa censurado por dois meses, em 1971 -ao mostrar na TV um homem que, por ser inválido, "emprestava" a mulher a um amigo-, declarou, em 1979, que "censurar é educar, é orientar os jovens para o caminho do bem e retirar os velhos do caminho do mal".
E mesmo que, em alguns momentos, tenha chegado a criticar os caminhos do regime militar, o apresentador sempre teve a imagem ligada a ele. "Isso irritava muito o velho. Ele dizia: "Eu tô aqui dando porrada na medida que posso...'", afirmou à Folha Flávio Cavalcanti Jr., 50.
O filho do apresentador, que começou a trabalhar na TV ao lado do pai, com 19 anos, diz que Flávio Cavalcanti "apoiou todo o processo da revolução de 64, mas quatro ou cinco anos depois, ficou decepcionado e começou a fazer oposição em seu programa".
"Ele era lacerdista convicto. Quando defendeu a revolução, sonhava com eleições diretas para presidente em 1965, disputadas por Lacerda e Juscelino. Mas com a mudança de rumo, o AI-5, a censura, ele entrou em rota de colisão com o governo", diz Flávio Cavalcanti Jr., que há 15 anos dirige o SBT em Brasília.
Ele conta que o pai chegou a esconder em sua casa artistas que estavam sendo perseguidos, como Leila Diniz. Ela passou uma temporada "afastada", na casa do apresentador, em Petrópolis, depois de dar uma entrevista polêmica ao "Pasquim". "Nós íamos levar bronca da censura toda semana. O velho enfrentou o regime tanto quanto possível. Mas sempre se dizia um homem careta, e sempre foi considerado um homem de direita", diz Cavalcanti Jr., que ainda não leu o livro "Nossos Comerciais, por Favor!".
Lúcia de Oliveira, autora da tese, afirma que o apresentador pode até ter mudado de opinião sobre o regime militar. Mas, pela análise dos programas e de declarações que encontrou em sua pesquisa, ela diz que essa mudança não aparece em seu discurso.
"Sendo ou não a favor dos militares, ele nunca deixou de valorizar na televisão os principais fundamentos da doutrina da Escola Superior de Guerra, a base do golpe", afirma. (LM)



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