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Jornalista teve relação dúbia com censura
DA REPORTAGEM LOCAL
O mesmo Flávio Cavalcanti que
teve seu programa censurado por
dois meses, em 1971 -ao mostrar
na TV um homem que, por ser inválido, "emprestava" a mulher a
um amigo-, declarou, em 1979,
que "censurar é educar, é orientar
os jovens para o caminho do bem
e retirar os velhos do caminho do
mal".
E mesmo que, em alguns momentos, tenha chegado a criticar
os caminhos do regime militar, o
apresentador sempre teve a imagem ligada a ele. "Isso irritava
muito o velho. Ele dizia: "Eu tô
aqui dando porrada na medida
que posso...'", afirmou à Folha
Flávio Cavalcanti Jr., 50.
O filho do apresentador, que começou a trabalhar na TV ao lado
do pai, com 19 anos, diz que Flávio Cavalcanti "apoiou todo o
processo da revolução de 64, mas
quatro ou cinco anos depois, ficou decepcionado e começou a
fazer oposição em seu programa".
"Ele era lacerdista convicto.
Quando defendeu a revolução,
sonhava com eleições diretas para
presidente em 1965, disputadas
por Lacerda e Juscelino. Mas com
a mudança de rumo, o AI-5, a
censura, ele entrou em rota de colisão com o governo", diz Flávio
Cavalcanti Jr., que há 15 anos dirige o SBT em Brasília.
Ele conta que o pai chegou a esconder em sua casa artistas que
estavam sendo perseguidos, como Leila Diniz. Ela passou uma
temporada "afastada", na casa do
apresentador, em Petrópolis, depois de dar uma entrevista polêmica ao "Pasquim". "Nós íamos
levar bronca da censura toda semana. O velho enfrentou o regime
tanto quanto possível. Mas sempre se dizia um homem careta, e
sempre foi considerado um homem de direita", diz Cavalcanti
Jr., que ainda não leu o livro "Nossos Comerciais, por Favor!".
Lúcia de Oliveira, autora da tese,
afirma que o apresentador pode
até ter mudado de opinião sobre o
regime militar. Mas, pela análise
dos programas e de declarações
que encontrou em sua pesquisa,
ela diz que essa mudança não
aparece em seu discurso.
"Sendo ou não a favor dos militares, ele nunca deixou de valorizar na televisão os principais fundamentos da doutrina da Escola
Superior de Guerra, a base do golpe", afirma.
(LM)
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