São Paulo, domingo, 21 de agosto de 2005

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MÔNICA BERGAMO

Universo da Festa do Peão de Barretos (SP) influencia novela da Globo, e vice-versa

A América é aqui

Luciana Cavalcanti/Folha Imagem
O padre Valdinei Machado, que usa fivela e toca berrante na missa


"América" imita Barretos, que inspira a novela das oito da Globo, que por ela é inspirado -e vice-versa. Entendeu? É assim: o estilo de vida da Festa do Peão da cidade do interior de São Paulo, que encerra no próximo fim de semana sua 50ª edição, ganhou projeção nacional com o êxito da novela "América", da TV Globo, que trata do evento num de seus núcleos, o da cidade fictícia de Boiadeiros.
Já a de verdade tem homens e mulheres de bota e chapéu, música country por todo o lado e touros tratados como astros do showbiz. Os organizadores da festa, neste ano ampliada de 11 para 18 dias, investiram R$ 10 milhões, esperam movimentar R$ 200 milhões em negócios e devem receber 1,2 milhão de pessoas. Entre elas, personagens tão ou mais divertidos que os da ficção, alguns deles "inspiradores" do enredo de "América".

Meu verdadeiro eu
Juliana Rezende, rainha da Festa do Peão e figurante da novela, está em crise de identidade. "Não me sinto mais a Juliana, mas um personagem." Aluna de uma faculdade de serviço social, ela foi "descoberta" por um olheiro em uma festa de pagode. "Decidi entrar no concurso porque estava para fazer 24 anos e não poderia disputar mais, pois o limite de idade é de 23."
Juliana, que não se considera uma "maria breteira" -garotas que vivem no brete (pequeno curral) tentando fisgar os peões, como a personagem de Samara Felippo em "América"-, diz que o assédio masculino aumentou depois da "fama", mas que ela está mais seletiva. "Quero que conheçam a Juliana, não a rainha da Festa do Peão."

Mais que os homens
No site da novela "América", a locutora de rodeios Gil (Lúcia Veríssimo) é descrita como uma mulher "tipo boazuda, do gênero que não passa despercebida em lugar algum". Na vida real, Mara Magalhães, que inspirou a personagem, também chama a atenção. Aos 33, é a principal locutora de rodeios do país e está feliz pela homenagem da autora Glória Perez. "Em muitos pontos, a história que eu vejo na televisão é a minha."
O preconceito dos concorrentes masculinos, segundo ela, já é fato superado. "Ganho mais que muitos homens por aí", afirma Mara, que é divorciada e viu seu cachê por apresentação saltar de R$ 2.000 para R$ 5.000 depois da homenagem na trama.

Chifre não é pecado
Essa nem na novela: no meio de sua bênção diária na rádio interna do Parque do Peão, o padre Valdinei Ricardo Ferreira Machado dá uma pequena canja de uma de suas habilidades mundanas: tocar berrante.
"No seminário, descobri que seria possível tocar berrante na igreja", diz o católico. "Na Bíblia, o chifre não tem conotação demoníaca. Fico feliz em conciliar a paixão pelo mundo sertanejo com a igreja."
Mineiro de Divinópolis, o padre Valdinei sempre foi integrado ao meio rural. Aos 29 anos, ordenado há dois, ele foi escalado para celebrar a missa dos 50 anos da festa, que será realizada nesta quinta-feira.

Segundos depois, a fama
As dançarinas country da foto tiraram a "sorte grande" na festa de 2004: foram figurantes da novela "América". As gravações levaram horas, sob uma temperatura de 33C. Já a cena durou apenas alguns segundos -o suficiente, segundo elas, para elevar o grupo Company Dance ao status de "estrelas regionais". "Tudo mudou depois que aparecemos na novela", diz Josiane Bueno, integrante. "Éramos tímidas, fomos nos soltando." O cachê também melhorou: de R$ 20 para R$ 50, por dançarina. Na festa deste ano, o Company fechou seis apresentações.

Bandido, o touro que é um estouro
Ele derrubou 180 peões e se tornou personagem de "América". Ser o touro Bandido é...
* Receber o pedicure a cada dois dias para fazer o casco;
* Praticar natação duas vezes por semana;
* Estrelar uma propaganda de cerveja;
* Ser o animal mais pop do curral, mas estar há quatro meses sem namorada porque seu dono quer a "vaca certa";
* Ter sido o último da turma a perder a virgindade, aos 20 meses de idade;
* Ter dois filhos reconhecidos -e talvez mais quatro, de paternidade não-comprovada;
* Viajar sozinho em uma carreta de 14 metros, enquanto os bovinos anônimos se espremem de 20 em 20 em cada caminhão.


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