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CRÍTICA
Novo telejornal do SBT segue "escola Globo"
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Ana Paula Padrão no SBT,
Carlos Nascimento na Bandeirantes, Lillian Witte Fibe na
Rede 21... A Rede Globo e o jornalismo nem sempre se entenderam às mil maravilhas, mas a
emissora acabou por fazer uma
escola que hoje está instilando
mais consistência no telejornalismo de outras emissoras.
Apesar de o jornalismo, por vezes, ter sido substituído ou contaminado pela espetacularização
da notícia, a Globo formou profissionais, inventou uma linguagem e aperfeiçoou técnicas que
hoje constituem base para qualquer telejornalismo que se pretenda sério.
Por ora, a "escola Globo" é, ao
mesmo tempo, o trunfo e o problema do "SBT Brasil" que Ana
Paula Padrão estreou na última
segunda-feira no horário das
19h15. Apesar do cenário um tantinho ao gosto mais espalhafatoso do SBT, o tom geral é de profissionalismo. Ana Paula retoma
seu estilo discreto e seguro e traz
sua credibilidade intacta para o
novo programa. Em termos de
jornalismo, acerta no básico
-pauta, produção, reportagem
começaram direito e, apesar da
bênção oficial do presidente Lula
na estréia, não destoa muito da
média nos quesitos isenção e independência.
Há algumas novidades que, se
mais e bem exploradas, podem
realmente fazer uma diferença. A
primeira é o esforço narrativo,
digamos assim, que é imprimido
à edição e à montagem do jornal.
Blocos inteiros de notícias são
"costurados" em um texto mais
interpretativo e que tenciona estabelecer conexões entre, por
exemplo, as manifestações de
terça-feira, as oscilações do mercado, a liberação de verbas pelo
governo, a proposta de aumento
do salário mínimo.
O pulo do gato parece ser que o
fio condutor dessa narrativa é,
sobretudo, temporal. Um pouco
na contramão da valorização da
idéia de simultaneidade que é
tradição no telejornalismo, aqui
há uma preocupação em fazer
uma espécie de "resumo do dia",
numa seqüência que tenta conjugar coerência em termos do tempo e de temas. É uma via de simplificação e didatismo interessante essa, pois pretende "organizar" o fluxo de informações para o espectador, em vez de apostar na fragmentação. O risco é
que nem sempre a realidade se
presta à organização.
A presença de comentaristas,
como Eliane Cantanhêde e Sérgio Dávila, não chega a constituir
uma novidade em si, mas talvez o
fato de ambos terem origem no
jornal impresso (a Folha) confira
um caráter menos "televisivo" às
suas intervenções, ou seja, eles
trazem uma certa incisividade
analítica e opinativa do texto escrito para a paisagem mais morna da TV. A dificuldade do "SBT
Brasil" é preservar aquilo que a
Globo ensina em termos de procedimentos básicos de telejornalismo ao mesmo tempo em que
se livra de algumas "globices". O
excesso de frieza de Ana Paula,
por exemplo, parece meio deslocado para o público da emissora.
@ - biabramo.tv@uol.com.br
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