São Paulo, domingo, 21 de agosto de 2005

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CRÍTICA

Novo telejornal do SBT segue "escola Globo"

BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA

Ana Paula Padrão no SBT, Carlos Nascimento na Bandeirantes, Lillian Witte Fibe na Rede 21... A Rede Globo e o jornalismo nem sempre se entenderam às mil maravilhas, mas a emissora acabou por fazer uma escola que hoje está instilando mais consistência no telejornalismo de outras emissoras.
Apesar de o jornalismo, por vezes, ter sido substituído ou contaminado pela espetacularização da notícia, a Globo formou profissionais, inventou uma linguagem e aperfeiçoou técnicas que hoje constituem base para qualquer telejornalismo que se pretenda sério.
Por ora, a "escola Globo" é, ao mesmo tempo, o trunfo e o problema do "SBT Brasil" que Ana Paula Padrão estreou na última segunda-feira no horário das 19h15. Apesar do cenário um tantinho ao gosto mais espalhafatoso do SBT, o tom geral é de profissionalismo. Ana Paula retoma seu estilo discreto e seguro e traz sua credibilidade intacta para o novo programa. Em termos de jornalismo, acerta no básico -pauta, produção, reportagem começaram direito e, apesar da bênção oficial do presidente Lula na estréia, não destoa muito da média nos quesitos isenção e independência.
Há algumas novidades que, se mais e bem exploradas, podem realmente fazer uma diferença. A primeira é o esforço narrativo, digamos assim, que é imprimido à edição e à montagem do jornal. Blocos inteiros de notícias são "costurados" em um texto mais interpretativo e que tenciona estabelecer conexões entre, por exemplo, as manifestações de terça-feira, as oscilações do mercado, a liberação de verbas pelo governo, a proposta de aumento do salário mínimo.
O pulo do gato parece ser que o fio condutor dessa narrativa é, sobretudo, temporal. Um pouco na contramão da valorização da idéia de simultaneidade que é tradição no telejornalismo, aqui há uma preocupação em fazer uma espécie de "resumo do dia", numa seqüência que tenta conjugar coerência em termos do tempo e de temas. É uma via de simplificação e didatismo interessante essa, pois pretende "organizar" o fluxo de informações para o espectador, em vez de apostar na fragmentação. O risco é que nem sempre a realidade se presta à organização.
A presença de comentaristas, como Eliane Cantanhêde e Sérgio Dávila, não chega a constituir uma novidade em si, mas talvez o fato de ambos terem origem no jornal impresso (a Folha) confira um caráter menos "televisivo" às suas intervenções, ou seja, eles trazem uma certa incisividade analítica e opinativa do texto escrito para a paisagem mais morna da TV. A dificuldade do "SBT Brasil" é preservar aquilo que a Globo ensina em termos de procedimentos básicos de telejornalismo ao mesmo tempo em que se livra de algumas "globices". O excesso de frieza de Ana Paula, por exemplo, parece meio deslocado para o público da emissora.
@ - biabramo.tv@uol.com.br


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