São Paulo, sexta-feira, 21 de agosto de 2009

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Crítica/"Se Beber, Não Case!"

Boa comédia empaca em ponto de vista convencional

Roteiro foge de piadas de sexo e aposta em busca aloprada por noivo sumido

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

"Se Beber, Não Case!" se diferencia das comédias de sexo habituais (perda de virgindade, início da idade adulta etc.) por um artifício de roteiro que a coloca fora do circuito da cafajestice. A saber: quatro amigos vão a Las Vegas para a despedida de solteiro de um deles, tomam por engano uma droga fortíssima e, quando voltam à consciência, descobrem que o noivo, justamente ele, sumiu. Toda a ação consistirá, basicamente, em seguir os traços dos desatinos praticados durante a vigência da droga e na aloprada busca pelo amigo -se possível, antes da hora do casamento.
Existe um tanto de evocação da antiga comédia "screwball", que se baseava no comportamento excêntrico dos personagens. A diferença é que, desta vez, o que determina esse tipo de comportamento é um agente exterior -aqui, no entanto, o recurso à droga projeta o filme na atualidade.
Logo após a noiva ser informada por telefone, no início do filme, que não haverá casamento, somos introduzidos, em flashback, às circunstâncias em que isso se deu, a começar pelo fato de que os amigos Phil (Bradley Cooper), um professor, Stu (Ed Helms), dentista, e Alan (Zach Galifianakis), irmão da noiva e meio idiota, resolvem ir a Las Vegas para a farra de fim de juventude de Doug (Justin Bartha).
Pouco depois de ingerirem a tal droga (que deveria ser ecstasy, mas não é), passamos ao fim da festa, isto é, ao momento em que recobram consciência, numa suntuosa suíte de hotel, em meio a traços quase sempre estranhos dos acontecimentos daquela noite: um bebê, um tigre, um dente arrancado etc.

Exaltação de Las Vegas
O humor virá dessa busca, da remontagem dessa noite de insânias, que inclui uma participação especial de Mike Tyson, a presença de um gângster chinês, um casamento inesperado. Sem falar, claro, no desaparecimento do noivo (encontrá-lo é a razão do périplo dos três amigos a esse passado de que não têm recordação, a não ser pelos traços que vão surgindo pelo caminho).
Ao diretor Todd Phillips deve-se creditar o fato de, com a ajuda de seus atores, não desperdiçar as situações cômicas e os diálogos escritos por seus roteiristas. Nesse sentido, o sucesso do filme não se deve à indignidade, o que é animador. No entanto, de um filme espera-se uma trajetória, uma mudança -algo que nos diga porque essas coisas estão sendo filmadas. Se algo se passa na vida de Stu, o dentista, com os outros três nada acontece de significativo, o que é bem decepcionante. Onde se espera um chute no traseiro das convenções, temos apenas a exaltação de Las Vegas como um parêntese de desordem (ou bagunça?) numa vida previamente ordenada e prometida ao exercício de uma certa ordem.
Nesse sentido, o fã de cinema tem o direito de sair da sala pensando no que poderia acontecer se o diretor deste filme fosse não Todd Phillips, mas John Landis: o conformismo teria ficado de fora.


SE BEBER, NÃO CASE!

Direção: Todd Phillips
Produção: EUA, 2009
Com: Bradley Cooper, Ed Helms
Onde: Boulevard Tatuapé, Bristol, Cidade Jardim, Jardim Sul e circuito
Classificação: 14 anos
Avaliação: bom




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