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Crítica/"Se Beber, Não Case!"
Boa comédia empaca em ponto de vista convencional
Roteiro foge de piadas de sexo e aposta em busca aloprada por noivo sumido
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
"Se Beber, Não Case!"
se diferencia das comédias de sexo habituais (perda de virgindade, início da idade adulta etc.) por um
artifício de roteiro que a coloca
fora do circuito da cafajestice. A
saber: quatro amigos vão a Las
Vegas para a despedida de solteiro de um deles, tomam por
engano uma droga fortíssima e,
quando voltam à consciência,
descobrem que o noivo, justamente ele, sumiu.
Toda a ação consistirá, basicamente, em seguir os traços
dos desatinos praticados durante a vigência da droga e na
aloprada busca pelo amigo -se
possível, antes da hora do casamento.
Existe um tanto de evocação
da antiga comédia "screwball",
que se baseava no comportamento excêntrico dos personagens. A diferença é que, desta
vez, o que determina esse tipo
de comportamento é um agente exterior -aqui, no entanto, o
recurso à droga projeta o filme
na atualidade.
Logo após a noiva ser informada por telefone, no início do
filme, que não haverá casamento, somos introduzidos, em
flashback, às circunstâncias em
que isso se deu, a começar pelo
fato de que os amigos Phil (Bradley Cooper), um professor,
Stu (Ed Helms), dentista, e
Alan (Zach Galifianakis), irmão
da noiva e meio idiota, resolvem ir a Las Vegas para a farra
de fim de juventude de Doug
(Justin Bartha).
Pouco depois de ingerirem a
tal droga (que deveria ser ecstasy, mas não é), passamos ao
fim da festa, isto é, ao momento
em que recobram consciência,
numa suntuosa suíte de hotel,
em meio a traços quase sempre
estranhos dos acontecimentos
daquela noite: um bebê, um tigre, um dente arrancado etc.
Exaltação de Las Vegas
O humor virá dessa busca, da
remontagem dessa noite de insânias, que inclui uma participação especial de Mike Tyson, a
presença de um gângster chinês, um casamento inesperado.
Sem falar, claro, no desaparecimento do noivo (encontrá-lo
é a razão do périplo dos três
amigos a esse passado de que
não têm recordação, a não ser
pelos traços que vão surgindo
pelo caminho).
Ao diretor Todd Phillips deve-se creditar o fato de, com a
ajuda de seus atores, não desperdiçar as situações cômicas e
os diálogos escritos por seus roteiristas. Nesse sentido, o sucesso do filme não se deve à indignidade, o que é animador.
No entanto, de um filme espera-se uma trajetória, uma
mudança -algo que nos diga
porque essas coisas estão sendo
filmadas. Se algo se passa na vida de Stu, o dentista, com os outros três nada acontece de significativo, o que é bem decepcionante. Onde se espera um
chute no traseiro das convenções, temos apenas a exaltação
de Las Vegas como um parêntese de desordem (ou bagunça?)
numa vida previamente ordenada e prometida ao exercício
de uma certa ordem.
Nesse sentido, o fã de cinema
tem o direito de sair da sala
pensando no que poderia acontecer se o diretor deste filme
fosse não Todd Phillips, mas
John Landis: o conformismo
teria ficado de fora.
SE BEBER, NÃO CASE!
Direção: Todd Phillips
Produção: EUA, 2009
Com: Bradley Cooper, Ed Helms
Onde: Boulevard Tatuapé, Bristol,
Cidade Jardim, Jardim Sul e circuito
Classificação: 14 anos
Avaliação: bom
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