São Paulo, sexta-feira, 21 de agosto de 2009

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Crítica/"A Onda"

Diretor examina a sedução pelo nazismo

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

E m seu longa anterior, "NaPolA" (2004), o diretor e roteirista alemão Dennis Gansel examina o mecanismo de sedução que leva um jovem boxeador a ingressar na academia de formação da elite nazista, em 1942, e a perder a inocência em relação às práticas do 3º Reich. Seria possível, àquela altura, que fosse mesmo inocente?
Pergunta semelhante ecoa em "A Onda", que adapta episódio verídico ocorrido nos EUA, em 1967, para a Alemanha atual: um professor de ensino médio seria ingênuo a ponto de promover um "laboratório de nazismo" com seus alunos?
Gansel considera a hipótese plausível e, a partir desse ponto de partida altamente duvidoso, encena de forma naturalista uma fábula macabra. Na pele de messias fascista, um mestre persuasivo e bem intencionado (Jürgen Vogel), de alma anarquista, conduz dezenas de jovens a uma experiência-limite.
Erguido sobre esse tablado frágil que parece desprezar as condições de trabalho entre os muros de uma escola alemã contemporânea, "A Onda" pede ao espectador a suspensão da descrença para que sua trama consiga encarar um tabu que ainda ronda o ensino de história na Alemanha.
Não por acaso, são mencionadas, no esforço de contextualização para a atualidade, as bandeiras alemãs nas janelas do país durante a Copa de 2006 -manifestação de nacionalismo que assustou muita gente. De um modo talvez enviesado, o próprio filme, ao desviar o foco da cena política e atribuir ao perfil psicológico dos personagens a adesão à causa fascista, ajuda a entender melhor a dificuldade de lidar frontalmente com o temor de ressurreição da barbárie.


A ONDA

Direção: Dennis Gansel
Produção: Alemanha, 2008
Com: Jürgen Vogel, Christiane Paul
Onde: Cine UOL Lumière, Espaço Unibanco Pompeia e circuito
Classificação: 12 anos
Avaliação: bom




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