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Crítica
Roberto Carlos começa maratona de shows em SP
Série de nove concertos no Ibirapuera está com todos os ingressos esgotados
SYLVIA COLOMBO
EDITORA DA ILUSTRADA
D
omingo à tarde, Cachoeiro de Itapemirim, dia 19 de abril de
2009, aniversário do Rei. A pista do aeroporto de sua cidade-natal era isolada por uma singela cerca de arame farpado.
Do lado de cá, nós, jornalistas, esperávamos o jatinho que
traria o cantor para o show de
início da turnê "Roberto Carlos
- 50 anos", cuja largada em São
Paulo é dada hoje -uma maratona de nove espetáculos, todos
com lotação esgotada. Do lado
de lá, gente da cidade e da roça
apertando-se para tentar vê-lo.
Naquela mesma noite, no estádio do time local Estrela do
Norte Futebol Clube, Roberto
deu um show de repertório batido. Mas foi especialmente curioso ver aquela mistura de mulheres de todas as idades, adolescentes, freiras do colégio onde ele estudou, parentes dele e
de Maria Rita, compondo um
coro que entoava com o mesmo
fervor tanto hinos religiosos,
como "Nossa Senhora", quanto
canções cheias de sugestões sexuais, como "Cavalgada".
Que força estranha Roberto
Carlos exerce sobre os brasileiros é um enigma que nem os
mais aplicados jornalistas musicais conseguem decifrar.
O show que São Paulo verá
hoje, amanhã e nos dias 25, 26,
28 e 29 de agosto e 1º, 2 e 3 de
setembro, no Ginásio do Ibirapuera, não terá novidades. Estarão no repertório as românticas "Emoções" e "Detalhes"; as
dedicadas ao pais ("Meu Querido, Meu Velho, Meu Amigo" e
"Lady Laura"); e uma sessão
Jovem Guarda, com "É Proibido Fumar" e "Quando" (você se
separou de mim). No fim, "Jesus Cristo" e rosas. Até as piadas devem ser as de sempre...
Tanta repetição deve-se ao
fato de que Roberto já não é
mais um fenômeno dinâmico.
Sente-se confortável em ser um
fato consumado. E que fato!
Foi, de certo modo, perdoado
ideologicamente com o fim dos
"pacotes" de gostos e hábitos
dos tempos da ditadura. Já não
é "alienante" gostar de suas
canções e não das de Chico
Buarque ou Caetano Veloso.
O que não significa que o cantor não siga causando desapontamentos "políticos", como
prova o caso da absurda proibição da biografia de Paulo Cesar
de Araújo -livro cheio de problemas de apuração, mas que
não merecia ser recolhido.
Roberto também venceu os
que insistiam no discurso:
"bom mesmo era o tempo da
Jovem Guarda". Como mostra
Araújo, nunca houve "dois" Robertos. O cantor passou por várias fases, mas a romântica
sempre foi a sua preferida, desde que estreou na rádio de Cachoeiro, aos 9 anos, cantando o
bolero "Amor y Más Amor".
Quem ainda assim não se
conforma com as escolhas artísticas ou políticas do Rei não
deve desistir de vê-lo pelo menos uma vez na vida. É o maior
fenômeno cultural já produzido por este país. E, particularmente neste momento, sua voz
está poderosa como nunca.
Avaliação: bom
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