São Paulo, sexta, 21 de agosto de 1998

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PATRIMÔNIO DILAPIDADO
MG já perdeu metade de seu acervo

da Agência Folha, em Ouro Preto

Desde o início do século, as igrejas de Minas Gerais perderam mais da metade de seus bens móveis de valor, ou seja, imagens, mobiliário, peças de uso nos cultos católicos e objetos ornamentais.
A afirmação é do padre José Feliciano Simões, pároco da Matriz do Pilar de Ouro Preto (MG) e ex-conselheiro da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) para o barroco mineiro.
Ele diz que, mesmo assim, Minas Gerais ainda guarda o maior patrimônio histórico do país, pois, na Bahia e em São Paulo, o dano feito pelos ladrões e a falta de conservação teriam sido ainda maiores.
Registros históricos mostram que a ameaça de roubo nas igrejas setecentistas de Minas Gerais já existe há pelo menos 150 anos.
No início do século passado, o bispo de Mariana, dom frei José da Santíssima Trindade, determinava a párocos do interior que vendessem as peças de culto feitas de prata para se evitar roubos e para arrecadar dinheiro para reformar as capelas.
O historiador Ronald Polito, que fez um estudo sobre os manuscritos do bispo para serem publicados pela Fundação João Pinheiro, ressalta que o frei não recomendava a venda de imagens nem dos vasos dos santos óleos usados no batismo.
Com base no registro de peças roubadas, estima-se que pelo menos dois terços dos bens móveis de valor das igrejas e museus de Minas Gerais, ou no mínimo 45 mil obras, continuam desconhecidos pelos órgãos oficiais que cuidam do patrimônio histórico.
Para se ter uma idéia, apenas um terço das 484 obras roubadas em igrejas e museus de Minas Gerais desde 1970 possuem o inventário detalhado com foto que permita sua identificação posterior.
O registro de roubos é feito pelo Iepha-MG, mas o superintendente de proteção do órgão, Carlos Henrique Rangel, estima que o número de obras roubadas pode ser "duas ou três vezes maior".
Esta semana, o escritório regional do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em Belo Horizonte terminou o inventário das 15 mil peças pertencentes às igrejas tombadas pelo órgão.
O próximo passo será o levantamento das peças que se encontram em museus, o que deve demorar mais um ano.
O Iepha-MG não informou o número de peças inventariadas pelo órgão, mas já fez levantamentos em 40 municípios do Estado e vem formando moradores do interior para fazerem os inventários em suas cidades. (CARLOS HENRIQUE SANTIAGO)



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