|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA
Obra foge do convencional
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
"A Voz e o Vazio: A Vez de Vassourinha", que passa amanhã no
Festival Internacional de Curtas-Metragens de SP, é uma pequena jóia do cinema de invenção.
O fato de ter sido recusado pelo
recente festival de Gramado é um
mistério, quando não um escândalo. Desde seu título aliterativo,
"A Voz e o Vazio" é um passo à
frente na busca de seu diretor,
Carlos Adriano, por um cinema
cada vez mais concentrado e poético, livre das gorduras discursivas
e sentimentais que tanto poluem
os filmes que temos visto.
Carlos Adriano foge do formato
convencional do documentário
como o diabo da cruz. Não há, em
seu filme, nenhum texto explicativo, nenhuma locução, nenhuma
intenção didática rasteira. Sua pedagogia é de outra ordem, sua ambição é extrema.
Trabalhando com imagens fixas
de arquivo -fotos, matérias de
jornal, documentos manuscritos,
partituras-, o diretor, com a ajuda da excepcional montagem de
Cristina Amaral, dá vida e sentido
aos fragmentos disponíveis de informação sobre a vida e a obra do
cantor Vassourinha. Todos os recursos de manipulação da imagem
e do som são mobilizados, tendo
como vetores o ritmo e a idéia.
O único som do filme é o das
gravações de Vassourinha. As únicas imagens que não são de arquivo são as do cemitério em que o
sambista está enterrado, filmadas
com câmera na mão e agudo senso
poético por Carlos Reichenbach.
Enquanto a câmera vasculha árvores e pedras à procura do túmulo de Vassourinha, em montagem
paralela com seus documentos
médicos e atestado de óbito, a trilha sonora encarrega-se de "enterrar" o cantor, com a emissão de
sua voz distorcida e ao contrário.
Outro achado estético é a transformação do "ruído" em recurso
expressivo. O chiado dos velhos
discos rima com o granulado das
fotos ampliadas e a textura puída
dos jornais velhos. Tudo é memória, esquecimento, matéria corroída pelo tempo.
Filme: A Voz e o Vazio: A Vez de
Vassourinha
Direção: Carlos Adriano
Produção: Brasil, 1998
Quando: amanhã, às 22h, no MIS; dia 25,
às 19h, no Estação Vitrine; dia 28, às 20h, no
Centro Cultural São Paulo
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|