São Paulo, sexta, 21 de agosto de 1998

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CRÍTICA
Obra foge do convencional

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

"A Voz e o Vazio: A Vez de Vassourinha", que passa amanhã no Festival Internacional de Curtas-Metragens de SP, é uma pequena jóia do cinema de invenção.
O fato de ter sido recusado pelo recente festival de Gramado é um mistério, quando não um escândalo. Desde seu título aliterativo, "A Voz e o Vazio" é um passo à frente na busca de seu diretor, Carlos Adriano, por um cinema cada vez mais concentrado e poético, livre das gorduras discursivas e sentimentais que tanto poluem os filmes que temos visto.
Carlos Adriano foge do formato convencional do documentário como o diabo da cruz. Não há, em seu filme, nenhum texto explicativo, nenhuma locução, nenhuma intenção didática rasteira. Sua pedagogia é de outra ordem, sua ambição é extrema.
Trabalhando com imagens fixas de arquivo -fotos, matérias de jornal, documentos manuscritos, partituras-, o diretor, com a ajuda da excepcional montagem de Cristina Amaral, dá vida e sentido aos fragmentos disponíveis de informação sobre a vida e a obra do cantor Vassourinha. Todos os recursos de manipulação da imagem e do som são mobilizados, tendo como vetores o ritmo e a idéia.
O único som do filme é o das gravações de Vassourinha. As únicas imagens que não são de arquivo são as do cemitério em que o sambista está enterrado, filmadas com câmera na mão e agudo senso poético por Carlos Reichenbach.
Enquanto a câmera vasculha árvores e pedras à procura do túmulo de Vassourinha, em montagem paralela com seus documentos médicos e atestado de óbito, a trilha sonora encarrega-se de "enterrar" o cantor, com a emissão de sua voz distorcida e ao contrário.
Outro achado estético é a transformação do "ruído" em recurso expressivo. O chiado dos velhos discos rima com o granulado das fotos ampliadas e a textura puída dos jornais velhos. Tudo é memória, esquecimento, matéria corroída pelo tempo.

Filme: A Voz e o Vazio: A Vez de Vassourinha Direção: Carlos Adriano Produção: Brasil, 1998 Quando: amanhã, às 22h, no MIS; dia 25, às 19h, no Estação Vitrine; dia 28, às 20h, no Centro Cultural São Paulo


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