São Paulo, sexta, 21 de agosto de 1998

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"Revolução na América do Sul', de Augusto Boal, volta irônica

CRISTIANO CIPRIANO POMBO
free-lance para a Folha

Ela foi escrita em 1960. Foi encenada pela primeira vez no teatro de Arena, conquistando o público e a crítica com um discurso engajado na defesa do proletariado diante da exploração.
Agora, 38 anos depois, "Revolução na América do Sul", de Augusto Boal, está de volta e diferente.
Longe do Arena e sem o engajamento político da época, sob a direção de Antônio Eduardo Serzedello, o Tuna, "Revolução" estréia hoje em São Paulo esbanjando ironia.
Carregada de metáforas, a nova montagem traça "o protótipo do brasileiro" ao retratar o desemprego, que serve de pano de fundo para outros temas: ineficiência política, corrupção, caos social.
A trama gira em torno do anti-herói José da Silva, um operário, pai de 15 filhos, que perde o emprego e inicia uma eterna luta para conseguir alimento.
Após uma frustrada tentativa de revolução na fábrica, José da Silva inicia sua busca passando por hospital, cadeia e Congresso Nacional até que, enfim, campanhas eleitorais dão forma a seus sonhos, com políticos se oferecendo para comprar seu voto.
"Revolução' é a fotografia de um desastre. Porém, hoje, o fotógrafo, os veículos e a estrada são diferentes. Em 60, tínhamos a luta do operariado. Hoje, o operário é privilegiado em relação ao desempregado", explica Tuna.
Segundo ele, a crítica da peça é "light e próxima do público".
"Ela não mostra o que fazer ou em quem se deve votar, mas dá o direito a um riso amargo, quando é visto o personagem ir ao hospital, pegar fila e não ser atendido ou quando ele força sua prisão, vai à cadeia para ganhar almoço e acaba solto devido ao excesso de presos", afirma.
Apesar do contexto diferente, além do texto original, Tuna -que também atua e assina a produção da peça- usa o "sistema curinga" de Boal, em que um mesmo ator interpreta diversos personagens. Ao todo são nove atores para 43 personagens, vestidos com figurinos de Caio Gobbi.
Ao som de tecno, caixotes -que se tornam cama, cadeira e palanque- e alegorias de alimentos, José da Silva atinge o auge de seus objetivos na disputa eleitoral, quando, após debate político em ringue, recebe até marmelada dos políticos.


Peça: Revolução na América do Sul Quando: estréia hoje, às 21h; sex. e sáb., às 21h; dom., às 20h; até 25 de outubro Onde: teatro Sérgio Cardoso - sala Paschoal Carlos Magno (r. Rui Barbosa, 153, Bela Vista, tel. 011/288-0136) Quanto: R$ 12



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