São Paulo, Sábado, 21 de Agosto de 1999
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" VMB 99
Audiência ainda escolhe rock na nova MTV

João Wainer/Folha Imagem
Rodolfo, vocalista dos Raimundos, cujo clipe foi eleito melhor do ano pela audiência da MTV


PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

A audiência da MTV ignorou o processo de aproximação da emissora com o axé e o pagode e escolheu o rock "Mulher de Fases", dos Raimundos, como o melhor clipe do ano, durante entrega do prêmio Video Music Brasil 99, anteontem, em São Paulo.
O discurso de agradecimento do vocalista Rodolfo teve caráter de protesto. Ele pediu um "ano 2000 sem preconceito musical" e concluiu: "O rock é música popular brasileira também".
A emissora, por sua vez, não encarou de frente a abertura aos "inimigos do rock", vedetes do crescimento de sua audiência desde fevereiro. Abriu espaço de shows para eles, mas fez a banda de pagode Art Popular cantar um funk com intervenção do rapper MV Bill e destinou a Ivete Sangalo uma reinterpretação de "Sá Marina", sucesso do soulman Wilson Simonal nos anos 60.
Já o grupo mineiro Skank é a cara do monstro Brasil, a julgar pelos resultados da premiação de quinta, na casa de espetáculos Via Funchal. Levou as estatuetas de clipe do ano, melhor clipe pop e melhor direção de arte, todos por "Mandrake e os Cubanos".
Das neocategorias do VMB, apenas o axé foi premiado -o clipe hi-tech do sertanejo Leonardo não levou nada e os pagodeiros "modernos" perderam para o "da antiga" Zeca Pagodinho.
A Banda Eva venceu, com "Carro Velho", o prêmio de melhor clipe de axé. O grupo não apareceu -quem recebeu os prêmios das mãos de Caetano Veloso e Gilberto Gil foi Ivete Sangalo, já desligada do grupo.
Caetano, dono do maior sucesso musical do ano, "Sozinho", saiu de mãos abanando. Perdeu para Chico Buarque em MPB e para o Skank em clipe do ano.
Em compensação, fechou a noite com Gilberto Gil, Rita Lee e Tom Zé, num emocionado retorno ao tempo da tropicália com "Parque Industrial" e "Bat Macumba" (ambas de 68), presença muda do maestro Rogério Duprat na platéia e bandeira brasileira com legenda mudada para "Amor e Progresso" ao fundo.
O clã mineiro, com Milton Nascimento, Lô Borges e Samuel Rosa (do Skank, de novo) -e reforçado pelo titã Nando Reis-, protagonizou a apresentação mais acidentada da noite. Problemas técnicos atrapalharam, vozes falharam e, segundo a Folha apurou, houve saia justa nos ensaios.
A também mineira Fernanda Takai, do Pato Fu, que anunciaria o show, foi trocada de última hora pelo VJ Edgar. Milton teria exigido a substituição, por não apreciar a postura não muito reverente da cantora em relação ao clube da esquina, movimentação liderada por ele e por Lô nos anos 70.
Entre as gravadoras, Sony e BMG saíram ganhadoras, capturando três prêmios cada. O Skank salvou a pátria da Sony, e a BMG faturou com Chico Buarque (clipe de MPB e fotografia) e Arnaldo Antunes (que dividiu com o Skank empate na categoria pop).
A Trama, gravadora estabelecida há um ano no Brasil, deu boa partida com dois prêmios, para Otto (revelação do ano) e Câmbio Negro (melhor clipe de rap, anunciado por KL Jay após aula sobre os quatro elementos do hip hop).
A Abril Music, também fundada no ano passado e pertencente ao mesmo grupo empresarial da MTV, saiu sem prêmios, embora acumulasse com o Capital Inicial o maior número de indicações.
Completam o elenco dos vencedores o grupo Caboclada (categoria democlipe), André Abujamra e Guilherme Ramalho (pela direção do clipe do Karnak) e Sérgio Mekler (pela edição do dos Paralamas do Sucesso).
Na categoria "gostosas", Adriane Galisteu, Tiazinha, Luana Piovani, Babi e Sabrina disputaram o prêmio. Tiazinha venceu, com a frase-resumo da noite (com o devido sotaque paulistano): "Num tô inteindeindo!".


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