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MÔNICA BERGAMO
Bem-vindo a Canô City
Ana Ottoni/Folha Imagem
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CENA Dona Canô, 96, entre os filhos Maria Bethânia e Caetano Veloso em missa realizada em homenagem à matriarca na igreja matriz de Santo Amaro da Purificação (BA)
Em Santo Amaro da Purificação, a matriarca do clã Velloso é mais importante que os filhos ilustres; ao menos no dia de seu aniversário, quando a cidade baiana pára
Até alguns anos atrás, tudo era
apenas uma brincadeira.
Que foi crescendo, crescendo, absorvendo a população, e,
de repente, a cidade se viu completamente dela. De dona Canô.
Em Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano, a
matriarca do clã dos Velloso está por toda a parte. Faixas, cartazes e placas não deixavam
ninguém esquecer que terça-feira, 16 de setembro, era dia de
Claudionor Vianna Telles Velloso, 96, mãe de Caetano, Maria
Bethânia e seis outros filhos.
Nas primeiras horas do dia,
cerca de 50 pessoas interrompem a calmaria da cidade para,
balões de gás em punho, cantar
"Parabéns" em frente ao número 179 da rua Ferreira Bandeira.
É lá que mora a figura mais influente e importante da comunidade. E sua agenda será extensa: além do café da manhã para
"os mais chegados", um almoço
para a família e amigos, uma
missa em sua homenagem na
igreja matriz e um coquetel para
450 pessoas, à noite.
Um esquema de trânsito especial é montado, reforço policial
solicitado. Tudo para que nada
dê errado naquele que é, na opinião dos próprios moradores,
"o dia mais importante do ano".
As visitas, no entanto, têm hora para acabar. Todos respeitam
o horário de descanso de dona
Canô -que entre o almoço e a
missa dá uma dormidinha. Já
com novo figurino, aparece para as entrevistas e fotos.
Jornalistas atendidos, é hora
de embarcar em seu Citroen
Xsara com motorista, rumo à
igreja. O trajeto é feito como
convém a seu status de chefe de
Estado: com batedores da PM.
Vaidosa, dona Canô fez questão de mandar forrar um sapato
especialmente para a missa.
Aproveitou e pediu à filha Bethânia que providenciasse um
saltinho. Surge na igreja impecável, em um tailleur creme, sob
chuva de pétalas e ao som de "Se
Todos Fossem Iguais a Você".
"Sou conhecida só por causa
dos meus filhos, que eu sei", diz
dona Canô. "Minha casa virou
ponto turístico, que eu sei", afirma. Lúcida, ela sabe de tudo. Sabe, por exemplo, que é muito famosa. "Graças a Deus", diz.
O longo período de festejos está marcado para terminar com
uma festa no teatro Dona Canô
-um teatro em sua homenagem foi construído com a bênção de Antônio Carlos Magalhães, amigo de longa data.
ACM aliás, é o único não-parente a figurar no cantinho de
retratos de dona Canô. Ao lado
de fotos dos filhos, netos e bisnetos, reluz a imagem autografada do político abraçado a ela.
A amizade com o senador pefelista aliada ao prestígio de que
desfruta na comunidade permitiu a ela intermediar vários projetos de melhoria para Santo
Amaro -como a obra de despoluição do rio Subaé, que corta
a cidade, e a reforma da igreja.
ACM é esperado. O estádio de
futebol -o Antônio Carlos Magalhães- fica a postos para seu
helicóptero. Que não vem.
Mas ano que vem tem mais.
O FILHO
'Não tenho vocação política'
Em Santo Amaro, Caetano
Veloso é Cae -pronuncia-se
"Cái", e não "Caê". No dia do
aniversário de dona Canô, Cae
protagonizou o momento mais
emocionante da missa, quando
cantou "Ave Maria" na igreja
matriz. Antes da festa, ele deu a
seguinte entrevista:
Folha - Seu amigo Gilberto Gil
agora é ministro. Você nunca pensou em entrar para a política?
Caetano Veloso - Não. Só tenho
um pouco de arrependimento de
não ter feito nada por Santo Amaro, porque realmente não tenho
vocação política. Eu me arrependo de não ter desenvolvido essa
vocação só por isso.
Folha - Em relação ao governo Lula, você está entre os decepcionados ou entre os esperançosos?
Caetano - Estou achando o Lula
ótimo. Ele está numa posição de
comando e sabe mandar, é um
bom chefe.
Folha - Do que você gosta e do
que não gosta na música brasileira
atual?
Caetano - Não vou falar de nada
de que não goste, porque isso não
dá certo. Gosto do Los Hermanos,
adoro Nação Zumbi. Adorei Maria Rita, gostei muito da emissão
dela. Cantando "Tudo Bem, Meu
Bem", é uma emissão delicada,
muito boa. Ela canta muito bem.
Folha - E da Preta Gil cantora?
Gosta?
Caetano - Acho que ela tem uma
pronúncia muito boa, canta muito bem. A dicção é boa. Eu gostei
da foto da capa do CD dela, mas
aquela em que Preta aparece nua
não me disse nada. Posso tirar a
roupa aqui e ficar nu na sua frente, não tenho problema com nudez. O que eu adorei mesmo foi
ver Marisa Monte cantando "Carinhoso" no filme "Meu Tempo É
Hoje". Aquele filme é belíssimo. É
a realização dos meus sonhos em
termos de cinema.
A FILHA
'Quero tudo que lhe fizer bem'
Maria Bethânia não se cansa
de paparicar a mãe. Bota perfume em dona Canô, abraça dona
Canô, beija dona Canô. É louca
pela mãe. "Quero estar perto
dela em tudo que lhe fizer bem",
disse a cantora, antes de conversar com a coluna.
Folha - Você não gosta de dar entrevistas, mas fale conosco...
Maria Bethânia - Quem disse que
não? Vamos falar, se for rápido.
Folha - Para fugir um pouco do
assunto "festa": o que você acha do
governo Lula?
Bethânia - Acho que está indo
bem. Ele gosta muito do Brasil, e o
Brasil o merece. Tomara que ele
consiga demonstrar esse amor.
Folha - E o ministro Gilberto Gil?
Bethânia - Acho muito bom, fiquei muito contente com a escolha. Além de muito sensível, é um
excelente administrador. Gil é
formado em administração. Acabei de fazer uma turnê com ele.
Foi bacana. Ele é um cavalheiro.
Em cena, tem alegria de usufruir,
de aprender. Gosto muito.
Folha - E da novidade Maria Rita
Mariano? Também gosta?
Bethânia - Não acho que ela seja
igual a Elis, como andam falando.
Mas eu ainda não a vi cantando.
Ouvi, acho que canta muitíssimo
bem, tem tudo para fazer o maior
sucesso. É natural que a comparem com a mãe, mas têm que parar com isso para ela poder se desenvolver. Ela já falou que sua
maior inspiração não é a mãe, e
sim uma cantora americana
[Holly Cole, na verdade canadense]. Mas parece que ninguém
prestou atenção nisso.
@ - bergamo@folhasp.com.br
SÉRGIO DÁVILA (interino)
COM CLEO GUIMARÃES E ALVARO LEME
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