FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO

"Ainda bem que não me lembro daquela época." Assim começa o documentário "A Geração de Guernica", que o canal pago Discovery Channel exibe hoje, às 21h. É uma boa oportunidade para conhecer a história única das mais de 30 mil crianças que deixaram a Espanha para fugir de sua sangrenta Guerra Civil (1936-1939). A viagem era para durar alguns meses. Muitos nunca voltaram.
O título do documento remete à cidade de Guernica, que se tornou o símbolo do conflito fratricida espanhol através do quadro homônimo de Pablo Picasso.
Em abril de 1937, a cidade foi bombardeada por aviões da Alemanha nazista, aliada do general Francisco Franco, líder do levante que derrubaria o governo de centro-esquerda e jogaria a Espanha numa ditadura até 1975.
O ataque, que matou cerca de 1.600 civis -praticamente um terço da população da cidade-, expôs ao mundo a barbárie do conflito espanhol. Também foi o impulso que faltava aos pais do lado republicano para enviar seus filhos em navios e trens rumo à União Soviética, à França, à Bélgica, ao Reino Unido e ao México.
As crianças escaparam dos horrores da guerra, mas, para muitas, foi um exílio sem volta, por motivos como a falta de notícias de pais e parentes ou, no caso das crianças enviadas à União Soviética, pela impossibilidade política, já que, após a Segunda Guerra Mundial, Franco se aliou aos EUA contra o bloco comunista.
"O que a Guerra Civil Espanhola nos trouxe: tirou-nos da infância, tirou-nos do carinho dos pais. A Segunda Guerra Mundial nos tirou a juventude, trouxe a fome, o frio, a miséria. E o pior de tudo é a nossa velhice. Acho que somos olhados como estrangeiros", diz um dos ex-refugiados na União Soviética, de onde só puderam voltar em 1956. Muitos optaram por ficar. "Eles tiveram de lidar com a ruptura duas vezes. Em momentos diferentes, mas com a mesma intensidade", diz Maria Eta Vieira, que em 2001 defendeu mestrado na USP sobre o tema.
A "Guernica" de Picasso só chegou à Espanha em 1981.