São Paulo, quinta-feira, 21 de setembro de 2006

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"Cinema, Aspirinas e Urubus" disputa vaga em Oscar

Filme foi escolhido por especialistas convidados pelo Minc para representar o Brasil na premiação

Longa teve concorrentes de peso como "Zuzu Angel'; agora, país submete candidatura à Academia de Hollywood

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

"Cinema, Aspirinas e Urubus", primeiro longa-metragem do cineasta pernambucano Marcelo Gomes, 43, foi escolhido ontem para representar o Brasil na corrida pelo Oscar 2007 de filme estrangeiro.
A decisão foi tomada por uma comissão de sete especialistas em cinema, convidados pelo MinC (Ministério da Cultura).
O Brasil submeterá agora a candidatura à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, que deve anunciar os cinco concorrentes à estatueta no dia 23 de janeiro.
Para Gomes, a campanha pela indicação, em que disputará espaço com candidatos como "Volver", de Pedro Almodóvar, indicado pela Espanha, "será um segundo momento".
Agora, o cineasta só pensa em voltar com ao cartaz com "Cinema, Aspirinas e Urubus" na salas brasileiras. "Este filme foi feito para o público brasileiro", afirma. "Minha dor é que ele não tenha sido visto por mais gente", completa a produtora Sara Silveira, que levou sete anos para reunir os R$ 2,1 milhões de seu orçamento.
"Cinema, Aspirinas e Urubus" arrebatou 41 prêmios em festivais nacionais e internacionais, a começar por uma distinção em Cannes. No entanto, foi visto por apenas 120 mil pessoas no Brasil -o escolhido para representar o país no Oscar 2005, "2 Filhos de Francisco" (que acabou não ficando entre os cinco concorrentes de filme estrangeiro), teve público de 5,3 milhões.
"Cannes não bastou [para atrair mais público no Brasil]. Vamos ver se agora [a indicação brasileira para] o Oscar basta", afirma Silveira. "Acho que está funcionando. Nunca dei tantas entrevistas como hoje [ontem]", observou Gomes.
Ambientado em 1942, no sertão brasileiro, o longa narra o encontro do retirante da seca Ranulpho (João Miguel) com o alemão Johann (Peter Ketnath) que escapa da guerra tornando-se comerciante de aspirinas. Para promover o produto, ele exibe filmes ao ar livre.
O secretário do Audiovisual, Orlando Senna, julgou a escolha acertada "como poucas vezes tivemos nos nossos indicados para esse prêmio". Senna avalia que "Cinema, Aspirinas e Urubus", ao mesmo tempo, "dialoga de maneira inteligente com o cinema brasileiro, com "Vidas Secas" [Nelson Pereira dos Santos, 1963], por exemplo, e tem uma leitura acessível para platéias estrangeiras".
Na seleção do indicado brasileiro ao Oscar, concorreu com 13 longas, incluindo produções de cineastas veteranos distribuídas pelas filiais de grandes estúdios americanos -"O Maior Amor do Mundo", de Cacá Diegues (Columbia) e "Zuzu Angel", de Sérgio Rezende (Warner). O distribuidor de "Cinema, Aspirins and Vultures" (título em inglês do filme) nos EUA é a entidade Global Film Initiative, que apoiou a finalização do título e lançou-o no MoMA, em Nova York, e em outras salas do circuito artístico em cidades norte-americanas.
O Ministério da Cultura estuda a concessão de um apoio financeiro para a campanha pela indicação do filme ao Oscar.
Gomes trabalha atualmente na conclusão do documentário "Carrancas de Acrílico Azul Piscina", que co-dirige com Karim Aïnouz ("Madame Satã") e prepara um novo filme de ficção, "desta vez contemporânea, uma história de 2006", conta.
O Brasil já teve quatro indicações ao Oscar de filme estrangeiro, desde "O Pagador de Promessas" (1963) mas jamais venceu. A Academia de Hollywood modificou neste ano o processo de seleção da categoria, que era alvo de críticas por um suposto conservadorismo. As alterações atingem sobretudo a formação dos comitês que definem os finalistas.

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