São Paulo, sexta-feira, 21 de setembro de 2007

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Teresa Cristina vai além da Lapa em seu 4º CD

Símbolo do bairro do Rio, cantora faz sua estréia em gravadora multinacional com sambas não-cariocas e rechaça saudosismo

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Almoçando rabada num botequim da Lapa, Teresa Cristina rejeita qualquer idéia que a retrate como a estrela do bairro. "Não me sinto nem quero ser porta-voz de nada", avisa, após roer o último ossinho.
Mas a cantora sabe ser o nome mais conhecido do processo, iniciado no fim dos anos 90, de revitalização da tradicional região do centro carioca. O que seu quarto CD ao lado do Grupo Semente indica é que ela não quer ser apenas isso.
"Delicada" é seu primeiro disco por uma multinacional, a EMI. A tiragem de 10 mil cópias é a maior que já teve, e a distribuição também será, o que poderá levá-la a mais lugares do país e do exterior.
"A meta é espalhar. Havia lugares aonde eu chegava com shows, mas o disco, não. Não era culpa da gravadora [Deckdisc], mas uma questão de estrutura", diz ela, que fará temporada de duas semanas no teatro Fecap, em São Paulo, a partir de 4/10, e depois embarcará para apresentações na Itália.
Na volta, Teresa Cristina pretende se manter cantando no Centro Cultural Carioca (toda quinta-feira) e no Carioca da Gema (toda sexta). Até quando? "Se o público da rua me fez ter gravadora, não vou dar tchau para a rua. Cantar na noite me faz bem", afirma, por um lado. "A noite não é escravidão, mas rola uma chibatinha. Cantar de 11 da noite às 3 da manhã não é fácil. E, se for pensar só na Lapa, vou crescer para onde? Quero fazer minhas músicas, compor com parceiros novos", argumenta, por outro lado.
Em "Delicada", cinco músicas levam a assinatura dela, incluindo a faixa-título, uma parceria com Zé Renato, e a de abertura, "Cantar". Esta é uma resposta suave aos que a criticavam quando ainda cantava de olhos fechados. "Vou jogando a minha vida pra você/ Por isso, fecho os olhos pra não ver", diz a letra.
"Eu era tímida, não tinha coragem", lembra ela, que, com o aumento em progressão geométrica do público da Lapa, percebeu que convinha abrir os olhos. "Sempre tem o sujeito que dá uma de sabonete e se esfrega em mulheres que não deve. Nunca vi uma briga, mas já evitei umas 50. Fico de olhos bem abertos", conta.
Lapa sem saudosismo
No disco, a faixa final, com três animados sambas da antiga, e "A Paz do Coração", de Candeia, evocam o clima da Lapa. Ainda há um Paulinho da Viola ("A Gente Esquece"), autor exclusivo do CD duplo que foi seu trabalho de estréia, em 2002. Mas Teresa foge do estereótipo que retrata os jovens da Lapa como saudosistas.
"Já ouvi até falarem que eu não gostava de Caetano. Ah, é?
Então, vou gravar Caetano", diz ela, que registrou "Gema", de levada bem baiana, assim como "Carrinho de Linha" (Walter Queiroz).
Outras que extrapolam os limites do samba carioca são "Pé do Lageiro", do maranhense João do Vale (e já gravada por Tom Jobim), e "Nem Ouro, nem Prata", sucesso de Rui Maurity. "Estou procurando sair do litoral e ir para a roça", resume ela.


DELICADA
Gravadora:
EMI
Quanto: R$ 25, em média


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