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Teresa Cristina vai além da Lapa em seu 4º CD
Símbolo do bairro do Rio, cantora faz sua estréia em gravadora multinacional com sambas não-cariocas e rechaça saudosismo
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Almoçando rabada num botequim da Lapa, Teresa Cristina rejeita qualquer idéia que a
retrate como a estrela do bairro. "Não me sinto nem quero
ser porta-voz de nada", avisa,
após roer o último ossinho.
Mas a cantora sabe ser o nome mais conhecido do processo, iniciado no fim dos anos 90,
de revitalização da tradicional
região do centro carioca. O que
seu quarto CD ao lado do Grupo Semente indica é que ela não
quer ser apenas isso.
"Delicada" é seu primeiro
disco por uma multinacional, a
EMI. A tiragem de 10 mil cópias
é a maior que já teve, e a distribuição também será, o que poderá levá-la a mais lugares do
país e do exterior.
"A meta é espalhar. Havia lugares aonde eu chegava com
shows, mas o disco, não. Não
era culpa da gravadora [Deckdisc], mas uma questão de estrutura", diz ela, que fará temporada de duas semanas no teatro Fecap, em São Paulo, a partir de 4/10, e depois embarcará
para apresentações na Itália.
Na volta, Teresa Cristina pretende se manter cantando no
Centro Cultural Carioca (toda
quinta-feira) e no Carioca da
Gema (toda sexta). Até quando? "Se o público da rua me fez
ter gravadora, não vou dar
tchau para a rua. Cantar na noite me faz bem", afirma, por um
lado. "A noite não é escravidão,
mas rola uma chibatinha. Cantar de 11 da noite às 3 da manhã
não é fácil. E, se for pensar só na
Lapa, vou crescer para onde?
Quero fazer minhas músicas,
compor com parceiros novos",
argumenta, por outro lado.
Em "Delicada", cinco músicas levam a assinatura dela, incluindo a faixa-título, uma parceria com Zé Renato, e a de abertura, "Cantar". Esta é uma
resposta suave aos que a criticavam quando ainda cantava
de olhos fechados. "Vou jogando a minha vida pra você/ Por
isso, fecho os olhos pra não
ver", diz a letra.
"Eu era tímida, não tinha coragem", lembra ela, que, com o
aumento em progressão geométrica do público da Lapa,
percebeu que convinha abrir os
olhos. "Sempre tem o sujeito
que dá uma de sabonete e se esfrega em mulheres que não deve. Nunca vi uma briga, mas já
evitei umas 50. Fico de olhos
bem abertos", conta.
Lapa sem saudosismo
No disco, a faixa final, com
três animados sambas da antiga, e "A Paz do Coração", de
Candeia, evocam o clima da Lapa. Ainda há um Paulinho da
Viola ("A Gente Esquece"), autor exclusivo do CD duplo que
foi seu trabalho de estréia, em
2002. Mas Teresa foge do estereótipo que retrata os jovens da
Lapa como saudosistas.
"Já ouvi até falarem que eu
não gostava de Caetano. Ah, é?
Então, vou gravar Caetano", diz
ela, que registrou "Gema", de
levada bem baiana, assim como
"Carrinho de Linha" (Walter
Queiroz).
Outras que extrapolam os limites do samba carioca são "Pé
do Lageiro", do maranhense
João do Vale (e já gravada por
Tom Jobim), e "Nem Ouro,
nem Prata", sucesso de Rui
Maurity. "Estou procurando
sair do litoral e ir para a roça",
resume ela.
DELICADA
Gravadora: EMI
Quanto: R$ 25, em média
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