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Crítica/show
Gerações brigam para ver Jerry Lee Lewis
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Jerry Lee Lewis não botou fogo no piano, mas
acendeu faíscas na plateia que foi ao Credicard Hall
na sexta passada, em São Paulo.
Entre os fãs, que ocuparam
apenas metade da casa (que
tem capacidade para até 7.000
pessoas), havia gente de diferentes gerações: crianças no final dos anos 50, quando o músico ficou famoso por incendiar
seu instrumento durante uma
apresentação; pós-adolescentes em 1993, quando ele tocou
pela última vez no país; e atuais
jovens animados portando topetes esculturais.
Alguns dos jovens estavam
tão animados que deixaram as
cadeiras para dançar perto do
palco. Mas aqueles que conhecem Lewis desde os anos 50/60
protestaram, e os seguranças
da casa tiveram que apartar pelo menos uma meia dúzia de
brigas entre essas diferentes
gerações -durante boa parte
do show, todos tiveram que
permanecer sentados mesmo.
No palco, Lewis parece nem
ter notado as confusões. Aos 73
anos, seus dedos já não estão
mais tão rápidos, mas, nos 45
minutos em que permaneceu
sentado ao piano, manteve o
público nas mãos, contemporâneas de Elvis Presley, Carl Perkins, Chuck Berry.
Com Lewis, o piano torna-se
tão visceral e enérgico quanto a
guitarra. É escoltado por uma
eficiente banda, mas seu carisma, sua importância histórica e
a qualidade de canções como
"Down the Line" jogam nossas
atenções apenas para ele.
A banda de Lewis tomou o
palco às 23h, após uma interminável apresentação de uma
banda cover -e do pior tipo de
banda cover, daquelas que realmente "sentem" as letras de
"Another Brick in the Wall" e
"We Are the Champions".
Após quatro ou cinco canções, os músicos dão espaço ao
mestre, que entra no palco ovacionado. Lee Lewis divertiu
com releituras de clássicos
como "Sweet Little Sixteen"
e "Roll Over Beethoven". O cenário era mínimo, discreto, como se fosse impossível tirar o
foco do mestre.
O cantor encerrou a apresentação com a incontornável
"Great Balls of Fire" e com
"Whole Lotta Shakin" Goin
On". Nesse momento, grande
parte do público não aguentou
e foi para a frente do palco. Os
seguranças, é claro, não puderam fazer nada.
Em 45 minutos, Lewis quase
não falou com o público. Deixou o palco acenando, sob gritos e flashes dos fãs, enquanto a
banda fazia o pano de fundo.
Uma das lendas vivas do
rock, Jerry Lee Lewis já se cansou de provocar polêmicas dentro e fora do palco -mas ainda
é capaz de causar atritos (e de
unir) entre diferentes gerações.
Avaliação: bom
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