São Paulo, segunda, 21 de setembro de 1998

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ARTES PLÁSTICAS
Livro traz ilustrações do pintor inspiradas nos relatos do alemão Hans Staden
Portinari promove ritual antropofágico

BRUNO GARCEZ
da Reportagem Local

O navegador alemão Hans Staden escapou, em meados do século 16, de ser devorado por uma tribo de índios tupinambás, adeptos do canibalismo, quando foi capturado no litoral brasileiro.
Staden, no entanto, não foi poupado pelo apetite voraz do pintor modernista Candido Portinari, que retratou as desventuras do navegador junto aos tupinambás em 26 desenhos realizados em 1941.
Os desenhos integram o livro "Portinari Devora Hans Staden", que será lançado hoje. A obra, patrocinada pelo Deutsche Bank, foi editada por Mary Lou Paris e pelo designer Ricardo Ohtake, que também fez o projeto gráfico.
"Portinari Devora Hans Staden" traz o texto original das memórias de Hans Staden, datado de 1557, assim como as xilogravuras que ilustraram a edição original.
Os desenhos de Portinari foram encomendados pelo editor americano George Macy para ilustrar uma edição das memórias de Staden que acabou nunca sendo lançada. O editor achou que a obra retratava com excessivo realismo os atos de canibalismo praticados pelos tupinambás.
Até hoje, os desenhos nunca haviam sido publicados, apenas exibidos em uma mostra dedicada ao pintor realizada no MAM de São Paulo no ano passado.
De acordo com o crítico de arte Olívio Tavares de Araújo, os desenhos transmitem sensação de espontaneidade, de terem sido feitos com rapidez. "Não há demérito algum nisso. A mão de um virtuose como Portinari dá conta do recado com rapidez", diz Araújo, que assina no livro ensaio sobre o pintor.
Segundo Ricardo Ohtake, "Portinari Devora Hans Staden" acabou se beneficiando do tema da 24ª Bienal de São Paulo: antropofagia.
"Foi uma coincidência feliz. Mas a idéia de lançar o livro, independentemente da bienal, já existia há cerca de um ano."
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Livro: Portinari Devora Hans Staden Lançamento: Editora Terceiro Nome Quando: hoje, às 18h30 Onde: Livraria Cultura (av. Paulista, 2.073) Quanto: R$ 60 (144 págs.)


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