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PANORAMA
Núcleo que aborda problemática de luz e cor em pinturas e fotografias é o segundo maior da mostra
Questões urbanas têm maior amplitude
free-lance para a Folha
De todos os núcleos do Panorama, o que tem maior destaque,
melhor localização no museu e
maior número de artistas é o dedicado aos problemas da vida nas
grandes metrópoles, como solidão, abandono e medo. Talvez
um sinalizador de que a arte de
hoje vai mesmo por esse trilho.
A primeira visão que o visitante
tem é uma parede revestida de espelhos, que duplica o espaço da
sala, engole as obras expostas e as
pessoas e inicia a discussão sobre
a experiência da vida urbana.
Trata-se de um fragmento da
instalação de Ana Maria Tavares,
"Exit", constituída por uma escada de aço inox que reproduz uma
escada de avião e pelos espelhos.
Subindo a escada, o espectador,
que a artista prefere designar passageiro, tem um fone de ouvido a
sua espera. Compenetrado em
equilibrar-se e estupefato pelo áudio, o visitante talvez não se dê
conta de que acaba de inverter as
relações do lugar: observa o museu de uma perspectiva inusitada,
situado em um pedestal.
Outro capítulo na radicalização
da arte é a obra de Oriana Duarte.
A artista apresenta registros de
um trabalho que desenvolve desde 97. Ela percorre cidades do
país mostrando a mesma performance: tomar sopa de pedras.
A sopa é feita com as pedras do
lugar de onde está chegando e da
cidade onde está no momento.
Em São Paulo Oriana não fará a
performance, que pode ser vista
em um vídeo no MAM, ao lado
dos suvenires da itinerância.
"Os suvenires mostram essa
impossibilidade que é a tentativa
de arrastar o lugar, é uma gozação
levada ao extremo e também uma
crítica à arte atual, auto-suficiente
demais", diz.
Os outros artistas do núcleo são
Sebastian Arguello, Rubens Azevedo, Ricardo Basbaum, Enrica
Bernadelli, Domitília Coelho, Patrícia Furlong, Christine Liu e Vilma Sonaglio, além de Paula Trope
cujo trabalho, premiado em 95, é
o eixo desse segmento.
Luz e cor
No núcleo que discute cor e luz
na pintura e na fotografia, em torno da obra "Mastros", de Alfredo
Volpi, o segundo maior do Panorama, é curioso notar como trabalhos fotográficos atualizam discussões intrínsecas à pintura.
Ricardo Carioba faz intervenções diretamente nos negativos,
interessado na materialidade da
imagem. Em alguns trabalhos,
usa filmes virgens. "Na máquina
de revelar há sensores que captam
mesmo o filme intacto", explica.
O resultado é difícil de distinguir de uma pintura. "Quando
coloco o vermelho na foto, não estou falando do significado que se
conhece de vermelho. A idéia é relacioná-lo com a forma, pouco no
âmbito consciente, mais no âmbito sensível. Quero ampliar possibilidades da consciência."
A ampla pesquisa dentro de
uma linguagem que se poderia
julgar limitada avizinha-se das
preocupações de José Guedes,
por exemplo. E abre uma discussão quanto ao predomínio da fotografia na arte contemporânea.
Cerca de 15 artistas da mostra expõem fotos ou obras que utilizam
algum elemento da fotografia.
Ela possibilita uma agilidade de
construção de imagem, além de
ser uma técnica libertária. Com
toda a tecnologia, o artista tem de
se preocupar mais com a idéia,
menos com o artesanato.
A dissociação entre criação artística e manufatura está presente
em vários outros trabalhos na
mostra, apontando outra característica forte da arte contemporânea. Também estão no núcleo de
luz e cor Vânia Mignone, Fábio
Noronha, Sérgio Sister e Teresa
Viana.
(JULIANA MONACHESI)
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