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LITERATURA
Os atores Christiane Tricerri e Pascoal da Conceição lerão hoje, na Folha, textos de autor cubano
Piñera emerge dos porões de Fidel
CYNARA MENEZES
especial para a Folha
A verve de Virgilio Piñera, poeta e
ficcionista, por
anos escondida pelo regime cubano,
será redescoberta
hoje, na Folha, pelas mãos de dois
enamorados de sua obra: Teresa
Cristófani Barreto, professora de
Literatura Hispano-Americana
da USP, e Daniel Samoilovich,
editor da revista argentina "Diario de Poesía", cujo último número é dedicado a Piñera, no 20º aniversário de sua morte, completo
em agosto.
Cristófani Barreto e Samoilovich comentarão textos de Piñera
e os atores Christiane Tricerri e
Pascoal da Conceição lerão contos do autor cubano, contemporâneo do poeta José de Lezama Lima (1910-1976) e muitas vezes
apontado como sua antítese.
Eram, segundo estudiosos dos
dois, como "O Gordo e o Magro"
da literatura da ilha. Lezama era
forte e erudito; Piñera era delgado
e falava a linguagem dura das
ruas. Ambos eram homossexuais.
Lezama e Piñera foram "inimigos íntimos" que alternaram
cumplicidade e aversão. Quando
Lezama Lima morreu, três anos
antes dele, Piñera descreveria a
relação: "Por um prazo que não
posso assinalar/ Me levas a vantagem de tua morte/ O mesmo que
na vida, foi tua sorte/ chegar primeiro. Eu, em segundo lugar".
Lezama, de fato, foi mais afortunado: descoberto por Julio Cortázar, saiu do limbo em que tinha sido colocado ao romper com o regime de Fidel Castro. Piñera morreu pobre e até hoje é desconhecido fora e até dentro de Cuba. Seu
livro "A Carne de René" (publicado no Brasil pela Siciliano, atualmente esgotado), editado na Argentina em 52, só foi publicado
em Cuba em meados dos anos 90.
Piñera, de família humilde e numerosa, nasceu em 1912 na província de Matanzas, viveu 12 anos
em Buenos Aires, entre 1946 e
1958. Voltou à ilha às vésperas da
revolução, em 59, à qual se alinhou. "Ao contrário do que diz a
crítica de esquerda norte-americana, Piñera não era um contra-revolucionário. Até 59, não tinha
atividades políticas, mas defendeu a revolução. Dizia que era a
única solução para os cubanos",
diz Cristófani Barreto. "Os problemas dele começaram em 61,
quando Cuba se alinhou à União
Soviética e homossexuais passaram a ser perseguidos, condenados à prisão e até à morte."
Com sua obra não-engajada e
"antibarroca", Piñera criou sua
lenda à margem dos estilos literários e da esquerda latino-americana, na moda durante os anos 60 e
70. Cabrera Infante chamou sua
escrita de "literatura de lavadeiras", pelo popular da linguagem.
Também tratou de espalhar histórias sobre Piñera, como a de
que Che Guevara teria jogado para o alto um livro seu, encontrado
na embaixada cubana em Argel,
perguntando o que fazia ali um livro "daquela bicha".
"A coisa ficou feia para ele em
71, quando foi proibido de viver
como escritor, de ler poemas em
público ou de fazer conferências.
Como cala-boca, o regime deu a
ele um emprego de tradutor de
francês para textos feitos na África", diz Teresa Cristófani Barreto.
Ela conheceu a obra do autor
nos anos 80, quando convidada
pela Iluminuras para traduzir
"Contos Frios". Quem quiser conhecer a poesia do cubano, inédita no país, pode conferir no site
que fez para divulgar a obra:
www.fflch.usp.br/sitesint/virgilio.
O evento de hoje será às 19h30,
no auditório da Folha (al. Barão
de Limeira, 425, 9º andar, Campos Elíseos, região central). A entrada é franca. Reservas devem
ser feitas, das 14h às 17h, pelo tel.
0/xx/ 11/224-3473.
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