da Redação

"O Amor e Outros Objetos Pontiagudos" é o oitavo livro de Marçal Aquino, entre volumes de contos, poesia e novelas juvenis.
Nas 11 narrativas do novo livro, o autor parece ter atingido aquela maturidade que confere ao texto uma qualidade (enganosa) de coisa natural, produzida sem esforço e sem tropeços.
São, em geral, histórias de indivíduos em trânsito, fugindo de alguma coisa ou tentando recuperar algo que se perdeu.
Seu ambiente preferencial são as fronteiras, as beiras de estradas, as frentes de desbravamento -metáforas geográficas dos limites psicológicos e morais a que chegam os personagens.
Entre estes, predominam os marginais. Um contrabandista é o protagonista do cinematográfico "Renda-se, Bob Mendes, Você Está Cercado" e ladrões dominam as histórias "Partilha 1", "Partilha 2" e "O Cerco".
Mas há também um guerrilheiro paraguaio ("Novas Cartas Paraguaias"), um escritor ("Bianca, 17") e, curiosamente, vários pais trabalhadores ("Pai", "Jantar em Família", "Matadouro").
Os contos são geralmente narrados em primeira pessoa, mas Aquino evita sabiamente o excesso de coloquialismo, o acento regional, a gíria que envelhece rapidamente.
O texto tem um tom de conversa calorosa, mas organizada e objetiva -ainda que se trate, às vezes, de uma conversa truncada e fragmentária, por conta de violentos cortes e elipses.
Não é só pela concisão e pelo tom franco que essa escrita paga tributo a Ernest Hemingway e aos "tough writers" americanos (para não falar de Rubem Fonseca).
Há também um viés "macho" que marca quase todos os contos: os protagonistas (invariavelmente homens) estão sempre comendo alguém ou lembrando ou planejando alguma trepada. A exceção é "Matadouro", sensível história de um amor homossexual.
As mulheres não precisam se alarmar: é com carinho e admiração que o autor as põe a nu (literal e metaforicamente) em suas narrativas. E, no fim das contas, é por causa delas que tudo se move.
(JGC)

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