São Paulo, sábado, 21 de outubro de 2000

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Gay Talese fala à Folha sobre o que mudou no "Times" desde 69 e critica a Internet

"O Reino e o Poder", expoente do "novo jornalismo", chega ao Brasil 31 anos depois de provocar celeuma nos EUA

O palco do quarto poder

Associated Press
Sede do 'New York Times' em 1921; a história do jornal está em 'O Reino e o Poder', de Gay Talese, que chega hoje às livrarias brasileiras


MARIO SERGIO CONTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Na semana que vem, chega às livrarias brasileiras "O Reino e o Poder", o livro de Gay Talese que conta a história do "New York Times". Talese entrou pela primeira vez na redação do "Times" em 1953. Saiu 12 anos depois como repórter consagrado.
Foi trabalhar na revista "Esquire", onde publicou três perfis de jornalistas do "Times": do redator de obituários, o de um executivo e o de um repórter especial. Os perfis foram o começo de três anos de trabalho para fazer "O Poder e o Reino", lançado nos Estados Unidos em 1969.
Seis meses antes da publicação, o "New York Times" resenhou o livro de Talese. Escrita pelo crítico oficial do jornal, Christopher Lehmann-Haupt, a resenha foi arrasadora: "Enganosamente fofoqueiro, intimamente anedótico, exaustiva e, às vezes, irrelevantemente detalhado".
Para Lehmann-Haupt, "ao retratar cenas reais com meios artificiais, e depois pretender estar sendo fiel à vida real", o livro resultou em "algo como um filme promocional com cenas de "Os Irmãos Karamazov"."
A resenha foi o estompim de uma furibunda polêmica na imprensa americana. Beneficiado pela celeuma, mas fundamentalmente pelos seus méritos, "O Reino e o Poder" tornou-se um grande sucesso. Entrou na lista dos livros mais vendidos do "Times" e nela permaneceu por mais de seis meses.
A restrição de Lehman-Haupt dizia respeito ao "novo jornalismo", gênero do qual Talese foi o maior expoente, junto com Tom Wolfe, o autor de "Os Eleitos".
Grosso modo, o "novo jornalismo" consiste em adotar as técnicas da apuração jornalística (entrevistas, pesquisa em arquivos, obtenção de documentos inéditos, como cartas, diários e memorandos) e usar na narrativa recursos da literatura de ficção, principalmente do romance (reconstrução de diálogos, descrição de detalhes reveladores, registro de pensamentos e estados de espírito dos personagens, ruptura da linearidade cronológica).
Em entrevistas, perguntaram ao autor como poderia saber o que ia pela cabeça de seus personagens em determinadas situações. Talese calou os críticos com uma resposta singela: havia perguntado a eles o que estavam pensando naqueles momentos. Antes de bom escritor, era um excelente repórter.
O rigor na apuração e a narração envolvente fazem com que, 31 anos depois da publicação de "O Reino e o Poder", Talese tenha razão em afirmar que o livro "continua vivo", inclusive na China, onde também está sendo lançado.


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