São Paulo, sexta-feira, 21 de outubro de 2005

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MODA

Desfiles com criações de jovens estilistas terminaram anteontem, em São Paulo, consolidando o talento de Wilson Ranieri

Último dia tira a monotonia do Hot Spot

ALCINO LEITE NETO
EDITOR DE MODA

Após dois dias de assombrosa monotonia, o terceiro e último desfile do Amni Hot Spot - Verão 2006 espantou o tédio e fez jus à idéia que sustenta este evento de moda paulista: ser ao mesmo tempo uma vitrine de novas formas e a ponte entre a experimentação de jovens estilistas e os interesses do mercado. Ousadia e criatividade não devem servir apenas para qualificar a roupa alternativa, extravagante ou juvenil. Um mercado de moda maduro precisa de personalidades fortes e novidades com sofisticação.
Os desfiles de quarta-feira salvaram o Hot Spot do convencionalismo, graças a talentos como Wilson Ranieri, Raquel Uendi, Eduardo Inagaki, Adriano Costa e a dupla Pitty e Carô, da grife Amapô. Foram também os desfiles mais concorridos. Fashionistas e algumas celebridades superlotaram o novo espaço do shopping Iguatemi que abrigou o evento.
Ranieri mostrou uma coleção fascinante, com peças de cores frias e listrados suaves e requintados, feitas de recortes e amarrações complexas, repletas de invenções sutis. Uma roupa tendendo ao chique, mas sem efeitos fáceis nem ostentação e muito contemporânea.
É lugar-comum achar que o verão pede cores fortes e primárias. Não poderia ser o contrário -na cartela minimalista? As coleções de Ranieri e Raquel Uendi dizem que sim.
Uendi apresentou uma série elegante e jovial de brancos com estamparias inspiradas na roupa suja dos pintores. Modelos desfilaram com os rostos manchados de tinta vermelha (de groselha, ainda bem!), seios nus debaixo de blusas da renda, com o líquido escorrendo deliciosamente em tudo. Foi o melhor momento "teatral" do Hot Spot, pura malícia feminina.
Os conjuntos supercoloridos da Amapô, estampados com uma parafernália de referências, enfeitiçaram quase todo mundo. É um trabalho difícil de design, mais feliz nos motivos étnicos do que nas formas geométricas, e muito infeliz quando lembra a pintura para exportação de Romero Britto, como ocorreu num casaco listrado.
A euforia da Amapô fechou em clima de festa o Hot Spot, marcado, nos melhores casos, pela idéia de firmar um verão brasileiro mais moderno e subverter alguns clichês da temporada.
As estamparias dominaram, como nos interessantes ziguezagues da Fuxique de Ana Strumpf. Vestidos longos entraram com força, mas os curtos se impuseram, como na concepção arrojada de Priscilla Darolt e na elaboração surpreendente e divertida de Eduardo Inagaki.
Houve muita amarração, laços, boleros, cintura alta e marcada, volumes assimétricos e tecidos fartos, leves e sobrepostos, como nas belas saias godê recheadas de tule de Simone Nunes. O branco, as cores claras e os multicoloridos se firmaram, o dourado apareceu bastante nos detalhes, e o negro quase sumiu, mesmo na roupa de noite.


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