|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MODA
Desfiles com criações de jovens estilistas terminaram anteontem, em São Paulo, consolidando o talento de Wilson Ranieri
Último dia tira a monotonia do Hot Spot
ALCINO LEITE NETO
EDITOR DE MODA
Após dois dias de assombrosa
monotonia, o terceiro e último
desfile do Amni Hot Spot - Verão
2006 espantou o tédio e fez jus à
idéia que sustenta este evento de
moda paulista: ser ao mesmo
tempo uma vitrine de novas formas e a ponte entre a experimentação de jovens estilistas e os interesses do mercado. Ousadia e
criatividade não devem servir
apenas para qualificar a roupa alternativa, extravagante ou juvenil.
Um mercado de moda maduro
precisa de personalidades fortes e
novidades com sofisticação.
Os desfiles de quarta-feira salvaram o Hot Spot do convencionalismo, graças a talentos como
Wilson Ranieri, Raquel Uendi,
Eduardo Inagaki, Adriano Costa e
a dupla Pitty e Carô, da grife Amapô. Foram também os desfiles
mais concorridos. Fashionistas e
algumas celebridades superlotaram o novo espaço do shopping
Iguatemi que abrigou o evento.
Ranieri mostrou uma coleção
fascinante, com peças de cores
frias e listrados suaves e requintados, feitas de recortes e amarrações complexas, repletas de invenções sutis. Uma roupa tendendo ao chique, mas sem efeitos fáceis nem ostentação e muito contemporânea.
É lugar-comum achar que o verão pede cores fortes e primárias.
Não poderia ser o contrário -na
cartela minimalista? As coleções
de Ranieri e Raquel Uendi dizem
que sim.
Uendi apresentou uma série
elegante e jovial de brancos com
estamparias inspiradas na roupa
suja dos pintores. Modelos desfilaram com os rostos manchados
de tinta vermelha (de groselha,
ainda bem!), seios nus debaixo de
blusas da renda, com o líquido escorrendo deliciosamente em tudo. Foi o melhor momento "teatral" do Hot Spot, pura malícia feminina.
Os conjuntos supercoloridos da
Amapô, estampados com uma
parafernália de referências, enfeitiçaram quase todo mundo. É um
trabalho difícil de design, mais feliz nos motivos étnicos do que nas
formas geométricas, e muito infeliz quando lembra a pintura para
exportação de Romero Britto, como ocorreu num casaco listrado.
A euforia da Amapô fechou em
clima de festa o Hot Spot, marcado, nos melhores casos, pela idéia
de firmar um verão brasileiro
mais moderno e subverter alguns
clichês da temporada.
As estamparias dominaram, como nos interessantes ziguezagues
da Fuxique de Ana Strumpf. Vestidos longos entraram com força,
mas os curtos se impuseram, como na concepção arrojada de
Priscilla Darolt e na elaboração
surpreendente e divertida de
Eduardo Inagaki.
Houve muita amarração, laços,
boleros, cintura alta e marcada,
volumes assimétricos e tecidos
fartos, leves e sobrepostos, como
nas belas saias godê recheadas de
tule de Simone Nunes. O branco,
as cores claras e os multicoloridos
se firmaram, o dourado apareceu
bastante nos detalhes, e o negro
quase sumiu, mesmo na roupa de
noite.
Texto Anterior: Hipersônicas Próximo Texto: Cinema: Bissexta, Jodie Foster volta com polêmica Índice
|