DA REPORTAGEM LOCAL

Existe a história: na década de 70, um bando de surfistas da decadente área praiana de Santa Monica (Califórnia) conhecida como Dogtown criou uma loja (a Zephyr) e, com o auxílio de uns moleques da região, colaborou para transformar o surfe e o skate, então coisa de "desocupados", em cultura e, principalmente, em negócio. Existe o documentário que conta essa história, o excelente "Dogtown & Z-Boys - Onde Tudo Começou" (2001), narrado por Sean Penn. Por fim, existe a versão romanceada, "Os Reis de Dogtown", que estréia hoje.
Ligando as três etapas está o skatista Stacy Peralta, 48, um dos (então) moleques de Dogtown, diretor do documentário e roteirista do filme. Seu sobrenome é um cartão de visitas apropriado para ele e seus colegas de farra e de esporte, bem como para o espírito que norteia o filme.
"Os Reis de Dogtown" é centrado na trinca de amigos formada por Peralta -um bom skatista, mas um homem de negócios ainda melhor-, Tony Alva e Jay Adams -estes sim, mestres do esporte e arruaceiros de primeira. O trio pegava onda entre os destroços do píer local e andava de skate nas pistas de concreto das escolas até que uma grande seca esvaziou as piscinas das mansões californianas e deu de bandeja um novo palco para as manobras dos Z-Boys. Desde então, a cultura jovem nunca mais foi a mesma.
O filme vai bem enquanto se concentra nas aventuras dos garotos, mas derrapa ao forçar a mão nas manobras emotivas, polarizando os personagens, destacando fatos menores apenas pelo efeito dramático e valendo-se de um final feliz apelativo.
Ademais, todas as qualidades que podem ser listadas aqui -a excelente trilha sonora, a plasticidade das manobras do skate, a ótima história real- já estavam presentes com muito mais destaque no documentário dirigido por Peralta. Ou seja, para quem assistiu ao primeiro, essa versão fictícia não tem interesse. Para quem não assistiu, o filme pode ser uma boa introdução, mas não dispensa uma conferida no original. (MARCO AURÉLIO CANÔNICO)

Os Reis de Dogtown
Lords of Dogtown
  
Direção: Catherine Hardwicke
Produção: EUA, 2005
Com: Emile Hirsch, Victor Rasuk
Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Interlagos e circuito