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O Império contra-ataca
Rio prepara as comemorações dos 200 anos da chegada da família real ao
Brasil, evento que vai tentar reabilitar a imagem de d. João 6º
MARCOS STRECKER
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Se depender do Rio de Janeiro, a imagem de d. João 6º vai
mudar completamente a partir
de 2008 -e dos dois lados do
Atlântico. Nem será o glutão
aparvalhado que devorava
frangos, nem aquele medroso
que fugiu às pressas de Napoleão abandonando os súditos
-mancha que até hoje irrita os
portugueses.
Quem está fazendo o reposicionamento de imagem do
príncipe regente, aquele que
aportou de supetão no Rio em 7
de março de 1808, é o brasileiro
Alberto da Costa e Silva, diplomata que está à frente da comissão organizadora das comemorações do segundo centenário da chegada da família real
portuguesa ao Brasil.
Ex-presidente da Academia
Brasileira de Letras (ABL),
Costa e Silva organiza uma programação que inclui um pacote
de 14 livros centrados no período joanino (saem a partir de julho de 2007), exposições lembrando a representação artística da época, apresentações teatrais e concertos com as mesmas músicas que agradavam ao
"primeiro rei europeu a ser
aclamado na América".
"A primeira coisa que estamos fazendo é restaurar a antiga catedral, que está abandonada desde a inauguração da nova
[Catedral Metropolitana do Rio
de Janeiro, inaugurada em
1979]. Vamos restaurar à condição de Capela Real", disse
Costa e Silva à Folha.
Capela Real
A recuperação da antiga Capela Real, atual Igreja de Nossa
Senhora do Carmo, que foi
construída originalmente em
1761, é uma obra de R$ 11 milhões que já está em andamento, patrocinada pela Fundação
Roberto Marinho. Foi lá que se
realizou a aclamação do próprio d. João (1818), assim como
as coroações de d. Pedro 1º
(1822) e d. Pedro 2º (1841).
A idéia da comissão municipal é reproduzir nos 12 meses
de 2008 um pouco da atmosfera do Rio de 1808 a 1821, período em que d. João 6º morou na
cidade. Foi o momento em que,
na prática, teria começado o
processo irreversível de nossa
independência, além de terem
sido criadas as instituições que
estavam na base da futura nação -Escola Nacional de Belas
Artes, a Escola de Medicina, a
Biblioteca Nacional, Imprensa
Régia, Jardim Botânico etc.
"Pretendemos reproduzir o
que já foi feito em 1958, com a
encenação da chegada da família real na praça 15. Também
vamos reconstituir a aclamação de d. João", anunciou Costa
e Silva.
Além de reproduzir em igrejas e teatros a arte que entretinha a corte, mostrando a revolução artística e cultural que sacudiu a então provinciana sociedade carioca, a programação
também tem um viés popular.
"Tenho a impressão de que o
grande momento vai ser na rua,
para reproduzir um pouco o
susto enorme que essa gente
devia ter tomado, dos dois lados. Os que chegavam e os que
aqui estavam."
A comemoração corre o risco
de acabar em samba -literalmente. As escolas de samba teriam se comprometido a trazer
no Carnaval de 2008 temas ligados à família real. E serão reproduzidos ao longo do ano os
grandes painéis pintados por
artistas da missão francesa, especialmente Debret, que seriam os antepassados dos
atuais carros alegóricos do carnaval carioca. "Para a aclamação de d. João, os artistas da
missão francesa fizeram as chamadas arquiteturas provisórias, efêmeras: o Arco do Triunfo, pirâmides, obeliscos etc., para dar uma impressão de monumentalidade ao Rio de Janeiro. Vamos reconstituir na
praça 15 toda essa cenografia de
época", disse Costa.
Grande africanista, além de
poeta, memorialista e ensaísta,
Costa e Silva é diplomático ao
falar de d. João (o único nome
que o faz soltar adjetivos é o escritor carioca Lima Barreto).
"D. João 6º está sendo revalorizado. Durante anos as pessoas
tinham uma impressão cômica
dele, de que era um bonacheirão, glutão. Era um homem
simples, não tinha pose de rei.
Mas ele foi vital na formação de
tudo o que é básico na vida brasileira. E a sua própria saída de
Portugal foi um lance de atrevimento político. Se ele tivesse ficado lá, os franceses o teriam
capturado, ele teria sido humilhado. A monarquia portuguesa
teria entrado em declínio. Com
a vinda para o Brasil ele salvou
sua coroa."
O jornalista MARCOS STRECKER viajou a convite da Fundação Roberto Marinho
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