São Paulo, sexta-feira, 21 de outubro de 2011

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CINEMA MUDO

Mohsen Makhmalbaf fala sobre a prisão , a tortura e a perseguição a cineastas no Irã ; diretor desembarca no Brasil no fim do mês

Divulgação
O cineasta iraniano Mohsen Makhmalbaf

GABRIELA LONGMAN
DE SÃO PAULO

Peça-chave do cinema iraniano, Mohsen Makhmalbaf é um homem sem endereço. Depois de deixar Teerã, em 2005, morar na França e na Inglaterra, o diretor de "Salve o Cinema" ou "A Caminho de Kandahar" prefere, por segurança, não dizer onde vive.
Oposicionista do regime de Mahmoud Ahmadinejad, foi ameaçado, até a vida se tornar "inviável" para sua família -aos 54 anos, é pai de Hana, 23, e Samira, 31, também cineastas.
Mas quem quiser encontrá-lo já sabe onde. No fim do mês, ele desembarca em Porto Alegre para uma conferência do projeto "Fronteiras do Pensamento".
Em São Paulo, pretende se reunir com cineastas brasileiros para pedir que o governo se posicione contra o Irã nos fóruns internacionais de direitos humanos.
Na entrevista abaixo, feita por e-mail, ele falou à Folha sobre cinema e intolerância.

 

Folha - O que mudou no panorama cinematográfico com o regime de Ahmadinejad?
Mohsen Makhmalbaf - Filmar ficou muito mais difícil. Antes, censuravam os filmes, mas não prendiam nem torturavam os cineastas, e as atrizes não eram açoitadas na prisão.
Quando os cineastas se propunham a filmar fora do Irã, não eram ameaçados nem sofriam atos de violência, como o cometido contra minha filha Samira no Afeganistão: uma bomba explodiu no set de filmagem, matando um membro da equipe e ferindo 20 pessoas.

Como o novo contexto afetou sua trajetória?
Há anos não posso mais filmar no país. Mas, além disso, o governo iraniano começou a criar mecanismos para atrapalhar a divulgação dos filmes no circuito internacional -ofereceram dinheiro ao Festival de Roma para que meu filme "Sex & Philosophy" não fosse exibido.
Soubemos que terroristas haviam recebido ordens de ir à França nos matar.
Durante meses, a polícia francesa cuidou de nós, até que a situação se tornou insuportável.
O sr. mantém contato com Jafar Panahi ou Mojtaba Mirtahmasb [diretores de "Isto Não É um Filme"]? Qual é a situação atual deles?
Mirtahmasb foi meu assistente, hoje está em uma solitária. Nem mesmo sua mulher consegue falar com ele. Jafar Panahi estava em prisão domiciliar, agora foi condenado e será enviado à prisão novamente.

Seu último filme é de 2009. Existe algum novo projeto em curso?
Escrevi roteiros que espero filmar. Minha filha Hana fez dois filmes em segredo no Irã e conseguiu fugir com eles.
Um deles, "Os Dias Verdes", é um documentário sobre as manifestações que se seguiram à eleição fraudulenta de Ahmadinejad, em 2009, e sua brutal repressão.
Ao vê-lo, fica cada vez mais claro que a Primavera Árabe começou no Irã.

Como é sua relação com o Brasil e seus diretores?
Já estive na Mostra de São Paulo como membro do júri e me senti em casa.
Respeito muito o Walter Salles. Na visita ao Brasil espero revê-lo e encontrar outros cineastas, como Arnaldo Jabor e Fernando Meirelles.
Quero que ajudem a pressionar o governo brasileiro a não se abster nos fóruns internacionais de direitos humanos em que o Irã é julgado.

Tradução de FLAVIO AZM RASSEKH



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