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CINEMA
Walter e João Moreira Salles programam top ten em festival internacional de documentários, que começa hoje
Amsterdã pesquisa crenças e esperança
AMIR LABAKI
ARTICULISTA DA FOLHA, EM AMSTERDÃ
Dois ciclos especiais destacam-se a partir de hoje na edição 2002
do Festival Internacional de Documentários de Amsterdã: os
maiores documentários da história, segundo os irmãos Walter e
João Moreira Salles, e os filmes
que mantêm acesa a chama da esperança em tempos tão sombrios.
"Os irmãos Salles" escolheram e
comentam no catálogo os "dez
mais" de todos os tempos, como
antes já fizeram Krysztof Kieslowski e Werner Herzog. Em filmagem, Walter não comparece,
cabendo a João apresentar uma
"Master Class" na próxima segunda e alguns de seus filmes.
Na mostra de destaques holandeses, a brasileira Maria Augusta
Ramos, que mora no eixo Rio-Amsterdã, lança seu "Rio um Dia
em Agosto". Já o curta "A Via Sacra da Rocinha", de Alexandre
Franco Montoro, será exibido no
ciclo "Em que Você Acredita?".
A participação brasileira vai
além. O cineasta Francisco César
Filho ("Rota ABC") participa do
júri de documentários curtos.
Uma das atrações da competição é "The Day I Will Never Forget", da premiada documentarista britânica Kim Longinotto, 50.
Depois de pesquisar o divórcio no
Irã e as lutadoras profissionais no
Japão, Longinotto volta sua câmera para o drama milenar da circuncisão feminina na África. De
Londres, ela concedeu a seguinte
entrevista por e-mail à Folha.
Folha - O que a levou a fazer um
documentário sobre a circuncisão
feminina na África?
Kim Longinotto - Paul Hamann,
da produtora Shine, me procurou
com uma proposta de uma espécie de filme militante com estatísticas. Não tinha certeza se gostaria
de fazer. Mencionou-se então o
caso de duas garotas que levaram
os pais ao tribunal visando impedir que as submetessem a circuncisão. Foi o que me interessou.
Não queria fazer um filme sobre
vítimas, mas sim sobre garotas
que lutam, sobre mudanças.
Folha - Você sempre trabalha
com uma assessora ou co-diretora
local. Quem cumpriu esse papel?
Longinotto - Foi a queniana Eunice Munanie. Mas existem tantas
línguas distintas no Quênia que tive que trabalhar com pessoas diferentes, como o doutor Fardhosa
Ali Mohamed, um médico da Somália. Parte do tempo eu tive de
filmar sem entender nada do que
estava ocorrendo.
Folha - Quão longe estamos de erradicar a circuncisão feminina?
Longinotto - Há uma real sensação de mudança. Mulheres de comunidades diferentes começam a
questionar a tradição. Não apenas
a circuncisão, mas também o casamento infantil. Querem educação e um "futuro mais brilhante".
Folha - Qual foi o dia que você jamais esquecerá?
Longinotto - O encontro com as
mulheres fortes que tive a sorte de
filmar no Quênia.
Folha - Como você responderia à
pergunta da mostra, "em que você
acredita"?
Longinotto - É preciso continuar
acreditando que há esperança para um futuro melhor.
O jornalista Amir Labaki viajou a convite do festival e é jurado da Anistia Internacional
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