São Paulo, segunda-feira, 21 de novembro de 2005

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Festival traz "lendas", mas faltam novidades

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Além de Chick Corea e seu Touchstone, outros músicos (alguns ótimos, outros nem tanto) também descem até o Brasil para participar do festival Music Masters, que se estende por vários lugares do Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba, Porto Alegre e Salvador).
Entre estes outros artistas, o mais interessante é o baterista Billy Cobham, que vem com a banda Culturemix. Assim como Corea, Cobham é um dos grandes nomes da fusion, talvez seu principal baterista.
Com um currículo que inclui um começo de carreira com o pianista Horace Silver, Cobham também aparece nos créditos do clássico fusion "Bitches Brew", de Miles Davis, com participação menor. Ainda assim, tocou com Miles por algum tempo, acompanhando de perto a revolução.
Aprendeu direitinho e fundou, ao lado de John McLaughlin, também egresso da banda de Miles, a Mahavishnu Orchestra, um dos principais nomes do começo dos anos 70.
Até 1973, quando gravou seu clássico pessoal, "Spectrum", que vendeu muito bem, provou seu alto nível como compositor e deu início à sua carreira solo.
Seu projeto atual, Culturemix, arrisca na mistura de vários estilos importados de culturas diferentes, misturando fusion, rock, música cubana, funk, jazz tradicional e elétrico. Se funciona ou não, só vendo para comprovar.
Depois de Cobham, em ordem de relevância, o festival traz também o trio do guitarrista Larry Coryell, que fez sua estréia no jazz na década de 60, no grupo do importante baterista Chico Hamilton. O que se diz sempre é que ele é um dos pioneiros do jazz-rock, mas mais difícil é explicar objetivamente o que é o jazz-rock.
O estilo de Coryell vem de uma pegada próxima do blues, mas rica em harmonias e conceituações, o que o coloca ao lado de grandes jazzistas, como McLaughlin e John Scofield. Teve seu auge na carreira há 30 anos e formação na fusion, com inclinações musicais inovadoras.
Robert Cray, o próximo da lista, é músico de blues com 30 anos de experiência. Bem acima da média dos músicos de blues, que costumam martelar as mesmas idéias com poucas variações, Cray tem uma boa voz com influência de soul meloso, tendências ao pop radiofônico e proximidade musical com bandas como Dire Straits.
Cantora de blues com experiência ganha no gospel, cantado na igreja de seu pai, pastor batista, Oleta Adams completa a formação do festival. Seu som é exatamente isso, um blues-gospel careta, mas com certa inclinação moderninha (ou o que seria chamado de moderninho há uns 15 anos), sem muito mais que isso.
Apesar do nome óbvio (dava para ser mais genérico que "Music Masters"?), o festival tem alguns ótimos shows. Mas todos os festivais de jazz por aqui seguem sempre a mesma fórmula. É essencial trazer nomes importantes e lendários, mas, a julgar pela seleção habitual de "lendas vivas", o freqüentador mais desavisado vai realmente acreditar no velho clichê que diz que o jazz morreu. Ou, pelo menos, que está nas últimas. (RE)


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