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Nuno Ramos publica livro com ensaios e memórias
Textos são costurados com ficção, projetos e roteiros
TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL
Este foi um ano literário para
Nuno Ramos. "Ensaio Geral",
livro que o artista plástico lança
hoje, na Livraria da Vila, em
São Paulo, é, em boa parte, a
concretização desse período.
Apesar de o título induzir à
idéia de uma compilação de
textos analíticos e críticos, o livro vai além. Os 22 ensaios propriamente ditos, que tratam de
temas como arte, música e futebol, são alinhavados com propostas de obras públicas, projetos de exposição, ficções e memórias pessoais.
Ramos não é novato no ofício. Formado em filosofia, escreve desde a adolescência e,
durante pelo menos uma década, dividiu o tempo entre o ateliê e um trabalho em uma grande empresa, no qual sua principal ocupação era escrever.
O artista tem outros dois livros publicados, "Cujo" (1993)
e "O Pão do Corvo" (2001). E há
o fato de boa parte de "Ensaio
Geral" ser de textos já publicados, escritos a partir de 1994.
A palavra é também componente usual de seu trabalho artístico. As recentes obras da série "Fala" são o melhor exemplo disso. Exposta no ano passado no Instituto Tomie Ohtake, a instalação "Vai Vai" era
composta por burrinhos carregando alto-falantes que emitiam textos escritos por Ramos.
O título "Ensaio Geral" é uma
abertura para essas ligações entre textos, arte, poética e vida.
Ensaio remete ao "estado das
coisas como gênero", diz ele.
"Minhas obras são um pouco
assim, estão literalmente em
ensaio, não estão prontas. É
uma possibilidade poética."
Sem orelha nem texto na
contracapa, que reproduz somente sua folha de rosto, o livro
em si é também "um ensaio". O
título e o nome do autor aparecem em uma peça feita por ele,
para ilustrar a capa.
Conversas
"É o ato de conversar que está na base destes ensaios, com
todo o sonho frágil de harmonia, de democracia profunda
que há numa conversa", escreve o autor na apresentação.
Talvez por essa crença, Ramos sugeriu um encontro com
a reportagem da Folha em uma
padaria em Pinheiros, na manhã ensolarada de ontem.
Já no final do encontro, ele
lembra de um aspecto importante de "Ensaio Geral" sobre o
qual ainda não havia falado.
"O livro trata do status intelectual do artista e levanta essa
questão de um jeito ambíguo",
aponta ele. "Sempre há um medo de confundir idéia com arte.
No livro, faço uma conexão
poética nessa região. O artista
pode ocupar um lugar interessante, opinativo de conceitos e
idéias", afirma Ramos.
O livro se formata a partir de
conexões. Embora temáticos,
os capítulos se desdobram. O
que fecha o livro, "De Giro em
Giro (A Parte Maldita)", traz o
roteiro de um filme, o projeto
de uma mostra e um diário.
"Minha Fantasma (Um Diário)" relata a depressão de sua
mulher, Sandra, durante seis
meses, as idas ao médicos, os
cuidados com ela e o seu sofrimento. O texto já havia sido
publicado em uma tiragem mínima, de cem cópias, distribuídas para pessoas próximas.
O ano literário de Ramos não
se encerra com este lançamento. Ele já tem dois livros para
serem lançados, "Ó", com 18
ensaios e sete poemas (os
"Ós"), e o ensaio ficcional "Mau
Vidraceiro".
Ramos pretende seguir no
caminho editorial no ano que
vem. Há projetos de livros sobre outros artistas e um sobre
sua própria trajetória.
ENSAIO GERAL
Quando: lançamento hoje, às 19h
Onde: Livraria da Vila (r. Fradique Coutinho, 915, Vila Madalena, tel. 0/xx/
11/3814-5811)
Quanto: R$ 52 (416 págs.)
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