São Paulo, domingo, 21 de novembro de 2010

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CRÍTICA DVD

Filmes mostram diferentes expressões de Bertolt Brecht

Caixa com três discos reúne produções nas quais o dramaturgo trabalhou


O PONTO ALTO DE "KUHLE WAMPE" É QUANDO PERSONAGENS DE VÁRIAS CLASSES SOCIAIS DISCUTEM A QUEIMA, PELO BRASIL, DE 11 MILHÕES DE QUILOS DE CAFÉ


LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

Se o teatro é efêmero, filmes podem ser eternos. "Brecht no Cinema" realiza os sonhos de muitos aficionados do dramaturgo alemão no Brasil e permite ao público em geral conhecer melhor a vida deste extraordinário poeta do século 20.
Os três DVDs reúnem películas de que Bertolt Brecht (1898-1956) participou de algum modo, além de um documentário com imagens raríssimas do próprio artista. Um dos destaques é "Os Carrascos Também Morrem", filme realizado pelo cineasta alemão Fritz Lang (1890-1976) nos EUA em 1943. Brecht escreveu o argumento original e colaborou no desenvolvimento do roteiro, mas não participou das filmagens. Passado em Praga, tem como herói principal o povo daquela cidade.
Outra pérola é a versão restaurada da "Ópera dos Três Vinténs", filmada em 1931, na Alemanha, por G.W. Pabst (1885-1967).
Também aqui Brecht permaneceu distante das gravações, mas os atores são os mesmos da histórica montagem de 1928, com música de Kurt Weill e direção e adaptação suas do original de John Gay. Marcas do futuro teatro épico de Brecht já aparecem na narrativa da ascensão de um escroque a banqueiro.

MARXISMO
A ótica marxista do autor sobressai mesmo em "Kuhle Wampe: A Quem Pertence o Mundo", de 1932. Brecht fez o roteiro com Ernst Ottwald desse misto de documentário e ficção, com música de Hans Eisler e dirigido por Slatan Dudow (1903-1963).
Realizado no auge do desemprego na Alemanha, combina imagens das ruas e fábricas de Berlim com seus arredores campestres. O ponto alto é uma cena no metrô em que personagens de várias classes sociais discutem a queima, no Brasil, de 11 milhões de quilos de café.
Do mesmo diretor, Dudow, há um curta-metragem mudo sobre as condições de vida do trabalhador berlinense, filmado em 1930.
Mais fraco que "Mistérios de uma Barbearia", do próprio Brecht, realizado em parceria com Erich Engel (1891-1966) em 1923. De estilo cômico grotesco, o filme oferece desempenho notável do ator Karl Valentin (1882-1948), uma das grandes inspirações do jovem Brecht.
Ainda nessa edição, especialíssima, o documentário "A Vida de Bertolt Brecht", de Joachim Lang, de 2006, percorre sua carreira, mas privilegia a vida pessoal, entrevistando filhos e amigos.
Uma das filhas lembra ter ouvido da mãe, Helene Weigel (1900-1971), a mais próxima e fiel das muitas amantes do poeta: "Brecht foi um homem leal. Infelizmente, porém, o foi para muitas".


BRECHT NO CINEMA
DISTRIBUIÇÃO Versátil
QUANTO R$ 69,90
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO ótimo


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